MEMÓRIA ELEITORAL
O eleitor precisava ter uma memória mais aguçada para esta questão. Numa roda de conversa entre populares, se você perguntar nome de alguma novela ou de sua/seu protagonista/o, a resposta correta não demorará a vir, mas se você indagar do qual partido este ou aquele candidato já pertenceu ou se coligou, certamente não obterá resposta.
Em Várzea Grande, na penúltima eleição, um candidato a prefeito foi acusado veladamente de pedofilia por um grupo político, algo muito grave para ser usado durante uma campanha eleitoral, fato que fere de morte a democracia, pois, não só atinge a imagem do candidato como induz o eleitor ao erro. Isso sim é ofensa.
Na mesma cidade, na última disputa, após o resultado das urnas, 50 títulos de eleitor e de documentos de identidade foram encontrados em um córrego no bairro Capela do Piçarrão, o que causou perplexidade em algumas autoridades. Mas a justiça eleitoral já descartou a possibilidade de ter havido fraude. Será?
Penso eu que, para prefeito(a), o uso desses documentos não alteraria o resultado até porque a diferença de um(a) para outro(a) foi de aproximadamente 3.000 votos, mas e para vereador(a)? Teve candidata que perdeu a eleição por uma diferença de 20 votos. E aí?
Em Cuiabá, um certo líder político denunciou recentemente a compração de votos para prefeito que vem ocorrendo na capital. E para vereador? Não houve compração de votos?
Depois da morte de Eric Hobsbawm, comecei a reler a “Era dos Extremos”. Em um dos seus textos ele afirma que um historiador social não pode negligenciar nem a economia nem Shakespeare. Deve analisar não somente os aspectos econômicos da vida em sociedade como as ideias, a linguagem e o imaginário coletivo.
Tenho tentado analisar isso tudo... mas como é difícil! Em período eleitoral você vê muita insanidade: os palanques se transformam em ringues com exibição de lutas com golpes baixos ou palcos teatrais com espetáculos melodramáticos!!!
Todos nós deveríamos guardar na memória quem já se uniu a quem e tornarmos historiadores sociais populares. Sinceramente, não temos que esperar mudanças profundas através da verticalidade. Temos que fazer acontecê-las de forma horizontalizada.
Com perdão aos que acreditam no alinhamento, eu perdi a esperança de que os problemas de quaisquer natureza sejam resolvidos de cima para baixo.
Passada a eleição, se a população não demonstrar o mesmo entusiasmo que teve durante a campanha para cobrar o que foi prometido, os problemas continuarão. E nós, Defensores Públicos, continuaremos propondo ações de regularização fundiária, processos para assegurar vagas em escolas e creches, medidas para assegurar leitos nas UTI’s, remédios nas farmácias de alto custo e assim por diante.
E antes que me rotulem de socialista, não sou filiada e nem simpatizante de qualquer partido político, meu título é de Várzea Grande e na minha cidade o monstro do desalinhamento foi derrotado pelo dr. Wallace!
Tânia Regina de Matos
É Defensora Pública do Estado, atua em Várzea Grande.