Desfiliação e Prejuízo
No jogo político-eleitoral se vê de tudo um pouco. Bem mais, por exemplo, que o próprio cenário do cotidiano pode oferecer. Aquele produz disque-disque, permite a “plantação” de notícias e os mais variados bate-bocas. Estes levam as cisões, separações sem volta. Foi, aliás, o que se presenciou recentemente, com as desfiliações de duas ou três centenas de filiados do PT/MT.
Partido político do Estado que se encontra bastante fragilizado. Fragilidade que vem de algum tempo, e se tornou pública a partir da queda de braços entre suas duas maiores lideranças. Cada uma delas visualizava unicamente seus objetivos, ainda que em alguns momentos beirasse a grupais, e, por conta disso, em torno delas passaram a gravitar muitos petistas. A disputa pela candidatura ao Senado deixou isso muito claro. Seu desfecho, porém, não poderia ser outro senão os desastres eleitorais da senadora e do deputado. Não só deles, mas também da sigla, que ficou sem representante algum no Congresso Nacional.
De lá para cá, este partido mato-grossense continuava a navegar em águas turvas e distintas. Embora chefie uma secretaria de Estado, ocupe cargos no governo federal e tenha nomes nos Parlamentos regional e municipais. Mas isso não cicatrizou as feridas. Pois apenas uma banda dele, capitaneada pelo ex-deputado, se usufrui de tais benefícios. O que não deixa dúvidas a respeito de que a outra banda, liderada pela ex-senadora, era e é preterida. Daí o seu alheamento sobre uma possível candidatura do partido à prefeitura da Capital. Distanciada mesmo com a pretensão do único vereador petista, mais próximo da banda preterida. Candidatura que ganhou corpo e força com a atabalhoada condução da concessão dos serviços de água e esgoto, somada as desastrosas manifestações dos parlamentares da base do prefeito e a aproximação obrigatória do PMDB, que tinha sido excluído como parceiro de chapa do PSB.
Apesar disso, e nem por conta disso, os petistas – divididos e as turras – se viram levados “a juntar os panos de prato”. Nem poderiam, uma vez que a banda excluída das benesses não se via representada na candidatura, até em razão da sua própria ausência na campanha, na disputa. Em seu lugar estão figuras de outro partido, bem como de personagens sem filiação partidária alguma, ainda que tenham sido recentemente. São estas presenças que serviram de “desculpas” para a desfiliação dos quase trezentos membros do PT, entre os quais alguns dos chamados históricos, e que já se colocaram a favor do candidato socialista.
Estas desfiliações e manifestação de apoio trazem prejuízos significativos na candidatura petista-peemedebista. Equivocam-se os que pensam diferentemente. Sobretudo porque em uma disputa, acirrada como a deste ano, os desfalques registrados enfraquecem o partido cabeça de chapa. Desfalques que podem pesar na balança de reflexão de muitos eleitores. Principalmente se o petista-candidato opinar a respeito, o que alimentaria a mídia, e transformaria os ditos atos – desfiliações e apoios – em obstáculos de sua caminhada.
De todo modo, ainda que o candidato petista não venha prolongar os efeitos de tais atos na mídia, ele não pode evitar os desgastes. Pois nada é pior, numa campanha político-eleitoral, do que a imagem de fraqueza, de incapacidade do diálogo e da inabilidade em manter junto de si, ao seu lado os próprios integrantes de seu partido. Resta saber se o adversário, o socialista, saberá aproveitar disso tudo. Existem dúvidas nesse sentido.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.