Educação, caso de polícia
Esta semana, do estúdio do nosso noticiário do meio-dia na TV Globo de Brasília, eu assisti a uma reportagem mostrando a PM a distribuir panfletos em frente a escolas, com instruções para os alunos se protegerem de assaltos em pleno dia. Depois, entrou o nosso consultor para assuntos de segurança, mostrando os erros dos estudantes: calçar tênis de alto preço; usar smart phone; carregar mochila cara; andar sozinho; caminhar distraído - e por aí vai. O especialista mostrou uma estudante dando exemplo: aproximava-se da escola olhando para todos os lados, desviava-se de pessoas suspeitas mesmo tendo que fazer um caminho mais longo e punha a bolsa sob o braço, com a mão a apertar o fecho.
Fiquei revoltado vendo isso. Me deu vontade de dizer que a culpa é nossa, pais desses estudantes. Se tivéssemos posto os filhos no mundo no Chile ou no Uruguai, não teríamos essas preocupações. Nosso filhos iriam para a escola distraídos, felizes, descuidados, com a roupa e o equipamento que quisessem, desacompanhados se isso fosse de seus temperamentos. O que foi mostrado ocorre na capital do País, supostamente um lugar muito bem policiado, pela polícia ostensiva que tem o mais alto soldo do país. Aqui, os jovens que são o futuro do país, não estão seguros a caminho do mais sagrado dos lugares cívicos: a escola.
Citei Chile e Uruguai, países próximos, tão sul-americanos quanto o Brasil. Seria demais citar algum país europeu. Lembro-me de que nas vezes em que fui ao Japão, sempre encontrei em trem e metrô crianças de quatro, cinco anos, com uniforme escolar, entrando e saindo dos vagões sozinhas, indo ou voltando da escola, com suas mochilinhas. Absolutamente seguras, porque, afinal, a cultura nacional está convicta de que é obvio respeitar aqueles que são o futuro do país.
Quando lembrei, ironicamente, que a culpa é dos pais que puseram num país como o Brasil essas crianças assaltadas, violentadas, sequestradas, atingidas por balas perdidas e abordadas por traficantes - quando lembrei isso, uma colega me recriminou pelo exagero. Mas convenhamos: esses pais não são também os que elegem governantes sem noção de que a prioridade é a Educação? Sei, eles também são vítimas da falta de Educação, de civilidade no mais amplo sentido. Foi a geração de meus pais, por exemplo, que elegeu presidente alguém que havia sido ditador por 15 anos. É a minha geração que nomeia, pelo voto, os chefes de executivos e os legisladores. E isso forma um círculo vicioso, com as consequências da falta de Educação a piorar a Educação. A ponto de a Educação, que deveria ser um caso de Política Nacional, se tornar um caso de polícia.
Alexandre Garcia é jornalista em Brasília
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