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Segunda - 09 de Julho de 2012 às 13:28
Por: Lourembergue Alves

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Muitas pessoas não se dão ao trabalho de assistir uma sessão no Parlamento municipal e estadual. As desculpas para tal são as mais variadas possíveis e até imagináveis. Uma ou outra delas “faz sentido”. Sobretudo a que se sustenta pela falta de um tribuno nas referidas Casas Legislativas, ou seja, aquele político – da tribuna - capaz de atrair a atenção também de quem não alinha com os seus pensamentos. Pois a sua voz, ainda que não fosse bonita, seduz pela força de sua oração, de seus argumentos que, aos poucos, demolem os mais céticos dos presentes e prendem a atenção até mesmo dos adversários.

Características, no entanto, impossíveis de serem identificadas hoje em dia. Pois a esgrima desapareceu completamente dos plenários tanto da Câmara cuiabana quanto da Assembleia Legislativa. Diferentemente de outras épocas, em que se tinham a presença de grandes oradores. Grandes não necessariamente por suas estaturas, mas pela força de suas palavras, as quais – cruzadas e entrelaçadas – dividiam, de fato, o cenário entre situacionistas e oposicionistas. Bons tempos aqueles! Não presenciados. Mas assistidos via leitura das atas, e é através destas que se podem visualizar as fortes figuras de um José Fontanilhas Fragelli, Amorésio, Jary Gomes, Gervásio Leite, Lenine Póvoas, Waldir dos Santos, Augusto Mário Vieira, Emanuel Pinheiro, José Ferreira de Freitas. Cada qual ao seu tempo e a seu modo fazia a diferença, em momentos distintos, porém igualmente ricos de ideias e de discurso.

Fartas e farto nas décadas de 1950 e 1960. Porém inexistentes nos dias atuais. Daí o marasmo das sessões legislativas. Reflexo do que se tem no próprio tablado da política local e regional. O que fica bastante claro com as candidaturas às prefeituras e aos legislativos dos municípios mato-grossenses deste ano. São candidaturas que não empolgam, muito menos convencem, pois lhes faltam conhecimento e a habilidade política, além de serem pessimamente assessorados. E não se deseja que eles, os candidatos, tenham uma capacidade política do senador Antônio Francisco Azeredo (1862-1936), muito menos de um Pedro Celestino (1872-1911). Até porque estes atores viveram em períodos bem outros, cujas estampas se diferenciavam, e muito, da atual. Mas os candidatos de agora não precisam necessariamente ser tão apagados, em termos de conteúdos políticos.

É nesse momento, tanto quanto em outros, que a ausência de Dante de Oliveira se torna maior. Político carismático, orador invejável, cuja característica se somava a sua “arte” de bem ouvir o interlocutor. Fazia isso a todo instante, e, depois de ouvir a todos, saia com a síntese do que escutara. Era, portanto, político vinte quatro horas por dia. Isso, entretanto, não serve como guarda-chuva para esconder-lhes os próprios erros, os desacertos. Estes, felizmente, foram menores que o conjunto de seus acertos. Acertos que o transformaram na expressão política do Estado mais importante das últimas quatro décadas. Referência para todas as gerações de cuiabanos e de mato-grossenses, e bastante conhecida em todo o país, a partir da chamada “Diretas-Já”. Emenda que fez os brasileiros retornarem às ruas, praças e, mesmo derrotada no Congresso, possibilitou a massificação do nome de Tancredo Neves para à presidência da República – ainda por via Colégio Eleitoral. 

Prevaleceu, então, a força do político habilidoso. O mineiro Tancredo tinha perfil diferenciado do Dante. Ambos, contudo, sobressaiam pela contundência de suas palavras. Palavras e ações tão fora de moda hoje em dia. Talvez porque hoje a maquiagem está acima das ideias e dos projetos. Explica-se, portanto, a romaria de assessores em volta dos candidatos a prefeito.

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br 



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