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Geral
Segunda - 28 de Maio de 2012 às 06:45
Por: Lourembergue Alves

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É interessante acompanhar o desenrolar dos trabalhos da “CPMI do Cachoeira”. Melhor ainda observar o comportamento das mídias em torno destes mesmos trabalhos, curiosamente divididas em dois grupos: o dos situacionistas e o dos oposicionistas. Distribuição que não deveria existir. Não em um país que “teima” em se colocar, e se apresenta na condição de democrata. Condição que cobra, inclusive para a sua própria existência, a transparência, tudo às claras.

Quadro que, infelizmente, acende a luz amarela, a luz do cuidado, do estar atento. Caso contrário, haverá um retrocesso. Bem pior do que aquele que resultou da instalação do período burocrático-militar. Aliás, o atual retrato argentino é um exemplo bem apropriado, onde o governo “calou a boca” de parte da imprensa local, justamente àquela que “batia” na presidente, ao mesmo tempo em que só permite a divulgação de dados sobre a economia e o social que tiverem o crivo oficial. Isso traz prejuízos inimagináveis. Talvez maiores que os registrados na Venezuela, cujo presidente e sua gestão nada têm a ver com o socialismo, embora a todo instante digam ao contrário, porém agem com a força de um ditador.

Retratos que assustam. Deles, aliás, certamente, originam a idéia de um Conselho para disciplinar os meios de comunicação brasileiros. Idéia estapafúrdia, porém, há muito, provoca ojeriza em quem viveu ou descende de alguém que foi “sumido” entre os porões das ditaduras. Mas seus defensores não estão nem aí. São eles, inclusive, que trabalham para que os trinta e oito mensaleiros não sejam julgados de fato, e nem sejam punidos como deveriam ser. Diferentemente, portanto, de viver em um país verdadeiramente democrático e suas colunas assentadas na planície do direito.

A demora da Corte-mor, somada a campanha de defesa de que o mensalão foi uma farsa ou invenção da mídia sensacionalista, entretanto, derruba a crença de que se vive, de fato, em um Estado de direito e democrático. Pois a impunidade é a bússola de orientação. Explica-se, por exemplo, o trabalho de blindagem de determinadas figuras que supostamente se envolveram com o “empresário” conhecido por Cachoeira, bem como o cuidado para não ir a fundo às investigações, uma vez que estas podem levar aos governos Lula e Dilma.

Situação complicada. Bem mais, evidentemente, quando se observa que existe uma briga declarada entre duas imprensas. Embora se saiba que deste fogo cruzado se pode extrair dados importantes, relevantes o bastante, por exemplo, para entender a estratégia utilizada pelo grupo que propaga a não existência do mensalão, bem como o daquele que tenta livrar as caras dos governadores envolvidos com o Cachoeira, cuja esteira a tentativa de não investigar a Delta nacional.

Tarefa do leitor, telespectador, ouvinte astuto, cuidadoso e atento. Capaz de diferenciar as cores das bandeiras de quem se encontram no campo de batalha, e não caia na armadilha do discurso fácil, da explicação desacompanhada da argumentação devida. Ainda que saia da pena ou da boca de atores que, no passado, foram às ruas para defenderem a liberdade e a democracia, e agora tem um comportamento completamente contrário.

Até porque o Estado democrático e de direito é fruto das lutas que exterminam com a impunidade. E cada vez que se vê um criminoso – comprovadamente nesta condição – escapar ileso, este tipo de Estado se distancia em demasia dos olhos de quem, em tese, o almejam.

Pois o que se tem hoje, verdadeiramente resulta-se das lutas passadas, assim como o cenário do futuro é um reflexo daquilo que se realizou no ontem e no hoje.

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br 



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