O Mercado de Vice-Prefeito
Fala-se muito em postulantes para as disputas das principais prefeituras do Estado de Mato Grosso. Quase nada, porém, sobre os possíveis candidatos a vice-prefeito. Raro é o texto que traz uma linha a respeito. Talvez por considerar o dito tema sem importância, ou mesmo por considerar que o vice não passa de um nome – menor – impresso na chapa.
Ingenuidade à parte. Pois, na verdade, o mercado de vices está em alta. Bem mais do que se possa imaginar. Sobretudo porque os candidatos a candidatos a titulares não apresentam credenciais satisfatórias para tais. Isso exige parceiros com potencial bastante para suprirem o que falta naqueles. E olhe que essa falta é bem maior do até agora detectado. Daí a procura, desesperada em alguns casos, por alguém que possa compor, trazer parcerias e ajudar na conquista dos votos.
Não se trata de uma tarefa fácil. Por culpa dos próprios partidos políticos, os quais não souberam instruir suas pequenas forças jovens, nem deram conta da relevância da formação política de seus filiados em geral. Aliás, substituíram a formação por doutrinação, como se esta tivesse o mesmo significado daquela, cujo papel ficou reduzido ao engrandecimento de determinadas “estrelas”. “Estrelas” que chegam com toda pompa nas reuniões partidárias, depois que um mestre de cerimônia fez toda a encenação para a sua entrada triunfal. Falam por alguns minutos – as baboseiras de sempre - e, logo, se retiram, sob aplausos puxados por grupos que estão, nesses encontros, unicamente a seus serviços, embora estejam na condição de integrantes da própria sigla.
Prática reforçadora do personalismo das agremiações. O que explica a discussão em torno de fulanos e beltranos, nunca em função de idéias ou de projetos. E, mesmo assim, é um debate pela metade. Pois os líderes políticos de hoje estão aquém da grandiosidade dos do passado, em particular do período de 1947-1965. São os de hoje, “uma negação” como oradores, ineficientes nas negociações e, pior, analfabetos em política, ainda que bastante eficientes em negociatas, no toma lá, dá cá.
Isso é ruim. Particularmente em um momento em que os vários postulantes são muito iguais. Daí a necessidade de um candidato a vice para contrabalancear.
Justifica, portanto, a busca quase desenfreada por esse nome. Tanto que os grandes partidos batem cabeças nos principais municípios mato-grossenses, entre os quais em Cuiabá, Várzea Grande, Cáceres, Rondonópolis, Sinop e Barra do Garças.
Na Capital, por exemplo, o PSB já conversou com o DEM, PR e o PT; enquanto o PMDB sonha em trazer junto de si um democrata, ou petista ou do PSD. Partido que também é sondado pelo PSDB, o qual igualmente já pensou no PTB, e neste existe forte pressão para que o prefeito encare a reeleição, ao lado do seu secretário de comunicação, inscrito no PSD. Sigla que pode também sair para a disputa, desde que conte com a circunstância favorável e o tempo de TV e de rádio de outra grande. Embora as de médio porte não estejam totalmente descartadas. Pois partido algum chega sozinho a vitória. Por isso é fatal a divisão ou a cisão dentro das alianças existentes, a exemplo do complicado jogo de cintura para manter-se vivo o casamento entre PPS, PV, PDT e PSB. Sobretudo em um cenário político onde o candidato a vice está em falta, e, até por conta disso, se encontra em alta – a inflacionar a disputa.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.