Briga Sem Data Para Terminar
Dois pedidos de licença no Legislativo estadual acirram a briga entre o PP e o PSD. Pois cada uma destas siglas reivindicava para si o direito de preencher as cadeiras temporariamente “vazias”. Uma liminar, concedida e em seguida revogada, “botou mais lenha na fogueira”. Inclusive a da vaidade. Tão forte e exagerada de suas maiores lideranças. Estas há muito, vivem as turras. Toleravam-se quando ambas se encontravam no partido progressista. O tolerar-se, entretanto, não eliminava a refrega existente. Ainda que seus campos de ação fossem bastante definidos. Um não se metia politicamente pelas bandas do Oeste mato-grossense, enquanto o outro não botava o bedelho lá pelo Nortão. Havia, portanto, um pacto entre eles.
Esse pacto de cavalheiros “vendia” a falsa paz dentro do Partido Progressista. Tanto que a mídia não divulgava, como deveria, a respeito dos desentendimentos internos, muito menos os analistas. Essa falsa paz se prolongou até o momento em que o presidente da Assembléia Legislativa migrou para o PSD, e se fez acompanhar por vários prefeitos, dezenas de vereadores, quatro deputados estaduais e um federal que, antes, se encontravam filiados ao PP. O partido, então, sofreu com os desfalques, e estes, pelo seu turno, deixaram possesso o “parlamentar cacerense”. Mágoas que se ampliaram com as disputas contínuas por maior espaço dentro do governo regional. Na maioria das vezes perdidas. Ainda que disfarçadas com a novela da entrega dos cargos ao governador por parte do PSD. Pois isso, de fato, não representou maior quinhão para o PP, nem para o deputado que esteve por certo tempo na chefia da pasta da Saúde.
Momento em que o progressista-secretário procurou substituir o suplente que assumiu temporariamente a sua cadeira na Câmara Federal. A liminar lhe foi negada. Ficaram, entretanto, os resquícios de desavenças, que se somaram com os do pretérito, os quais, juntos e entrelaçados com aqueles, mantêm frente a frente os dois velhos coronéis da política mato-grossenses.
Coronéis que jamais deixaram de se estranhar. Bem mais agora, quando ambos pertencem à base aliada do governo estadual, porém hoje em bandeiras partidárias distintas.
Estranham-se não por razões ideológicas, tampouco em função de visões políticas diferenciadas, ou por pensarem de maneira diferente os rumos administrativos que o Estado deve tomar. Divergem-se tão somente por interesses particulares, individuais. Nada mais. As mesmas razões, aliás, pelas quais o PP entrou com um pedido de liminar para anular a posse de dois suplentes no Legislativo regional – ambos apadrinhados pelo chefe-mor do PSD.
Liminar imediatamente revogada. Sob a alegação de falta de competência de quem a havia concedido. Pois houve erro na distribuição da ação para Turma da Câmara Reunidas de Direito Público e Coletivo do Tribunal de Justiça. Proposital ou não – nunca se saberá. O certo é que tal querela jurídica serviu para esquentar os ânimos entre peessedistas e progressistas.
Briga que tende a esquentar. Pelo menos toda vez que estiver em jogo interesses por maior poder de barganha no governo. Contenda que o Conselho Político, recentemente criado, pouco resolverá. A não ser em disputa municipal, onde aliados dos dois coronéis estiverem juntos. Mas isso, também, é temporário. A queda de braço não tem data para terminar. As apostas continuam abertas.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.