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Um Retrato Desfigurado
É crítica a situação financeira do governo mato-grossense. Tal notícia já se deslocou do centro das decisões para a periferia, e desta para o grosso da população. Sem que fosse preciso uma cadeia de divulgação. Talvez porque a mídia não viu a dita crise como matéria relevante. A despeito disso, entretanto, ela virou tema dos papos nos botequins, dos pátios universitários e, enfim, dos encontros esporádicos nos corredores dos poderes. Tem até piada sobre – contada ao som da cantilena de que fornecedores formam filas em determinados setores e órgãos governamentais.
Retrato que se contrapõe ao crescimento da arrecadação. Esta, apesar de seus índices crescentes, contudo, não é o bastante para “tapar” os buracos – frutos de erros e desvios dos últimos anos, de acertos desnecessários com os demais poderes e de gastos nas campanhas eleitorais. Por isso a conta não fecha. Falta dinheiro, aliás, para os investimentos. Inclusive nos setores mais necessitados da administração pública, a exemplo da saúde e da segurança. Isso tem provocado desconforto nas gestões municipais. Daí a gritaria de parlamentares, os quais precisam ver “seus companheiros” eleitos e/ou reeleitos para as prefeituras e câmaras de vereadores.
Faz sentido, portanto, a exigência da reforma administrativa que diminua o tamanho da máquina estatal. Mesmo que esta, contraditoriamente, venha a reduzir drasticamente o número de cargos comissionado ou temporário. Cargos, tragicomicamente, preenchidos também por indicações dos políticos situacionistas. São estes, igualmente, que apresentam nomes para compor o secretariado – ampliado para vinte pastas com o fim único de acomodarem gente suas, ou que “tiveram” participação efetiva na reeleição do governador.
Tal redução, entretanto, passa por uma discussão dentro da ala governista. Tarefa que exige a figura de um articulador político, desapegado de qualquer grupo aliado e sem desejo algum na partilha do quinhão, compromissado apenas em manter o diálogo entre os governistas, responsável para “apagar o fogo” provocado pelos interesses variados e estreitar as necessidades do Estado com as “vontades particulares”.
Figura, entretanto, bastante difícil de ser encontrada. Sobretudo porque inexiste, na base aliada, uma pessoa com tamanha habilidade e competência. Desnecessário, portanto, dizer que ela não se encontra no Legislativo, tampouco no Executivo. Entende-se, agora, porque o governo se distanciou do Parlamento, embora conte com o apoio da imensa maioria dos deputados estaduais. A ponto do presidente da Casa, em recente depoimento a um blog da Capital, ter dito que o governador precisa “conversar mais com os partidos aliados”, “ouvir mais as siglas”.
É claro que essa frase representa bem mais do que, de fato, suas palavras traduzem. Traz embutidas queixas contra secretários e reivindicações de prefeitos preocupados tão somente com suas reeleições.
De todo modo, contudo, é preciso mudar. A reforma administrativa seria um grande começo. Mas esta passa, primeiro, por uma ampla discussão, inclusive com segmentos da sociedade, e, a partir dessa discussão, o planejamento. Pois nenhuma mudança surtirá o efeito desejado sem o planejar. Verbo, entretanto, desconhecido e não conjugado pelo atual grupo que tem o poder de mando do Estado. O que é péssimo, e deixa sem cor o retrato da crise.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
Retrato que se contrapõe ao crescimento da arrecadação. Esta, apesar de seus índices crescentes, contudo, não é o bastante para “tapar” os buracos – frutos de erros e desvios dos últimos anos, de acertos desnecessários com os demais poderes e de gastos nas campanhas eleitorais. Por isso a conta não fecha. Falta dinheiro, aliás, para os investimentos. Inclusive nos setores mais necessitados da administração pública, a exemplo da saúde e da segurança. Isso tem provocado desconforto nas gestões municipais. Daí a gritaria de parlamentares, os quais precisam ver “seus companheiros” eleitos e/ou reeleitos para as prefeituras e câmaras de vereadores.
Faz sentido, portanto, a exigência da reforma administrativa que diminua o tamanho da máquina estatal. Mesmo que esta, contraditoriamente, venha a reduzir drasticamente o número de cargos comissionado ou temporário. Cargos, tragicomicamente, preenchidos também por indicações dos políticos situacionistas. São estes, igualmente, que apresentam nomes para compor o secretariado – ampliado para vinte pastas com o fim único de acomodarem gente suas, ou que “tiveram” participação efetiva na reeleição do governador.
Tal redução, entretanto, passa por uma discussão dentro da ala governista. Tarefa que exige a figura de um articulador político, desapegado de qualquer grupo aliado e sem desejo algum na partilha do quinhão, compromissado apenas em manter o diálogo entre os governistas, responsável para “apagar o fogo” provocado pelos interesses variados e estreitar as necessidades do Estado com as “vontades particulares”.
Figura, entretanto, bastante difícil de ser encontrada. Sobretudo porque inexiste, na base aliada, uma pessoa com tamanha habilidade e competência. Desnecessário, portanto, dizer que ela não se encontra no Legislativo, tampouco no Executivo. Entende-se, agora, porque o governo se distanciou do Parlamento, embora conte com o apoio da imensa maioria dos deputados estaduais. A ponto do presidente da Casa, em recente depoimento a um blog da Capital, ter dito que o governador precisa “conversar mais com os partidos aliados”, “ouvir mais as siglas”.
É claro que essa frase representa bem mais do que, de fato, suas palavras traduzem. Traz embutidas queixas contra secretários e reivindicações de prefeitos preocupados tão somente com suas reeleições.
De todo modo, contudo, é preciso mudar. A reforma administrativa seria um grande começo. Mas esta passa, primeiro, por uma ampla discussão, inclusive com segmentos da sociedade, e, a partir dessa discussão, o planejamento. Pois nenhuma mudança surtirá o efeito desejado sem o planejar. Verbo, entretanto, desconhecido e não conjugado pelo atual grupo que tem o poder de mando do Estado. O que é péssimo, e deixa sem cor o retrato da crise.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
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