Orgulho de ser jornalista
A frase do título acima resume bem o estado de espírito e motivação dos jornalistas de Mato Grosso e de alguns da Folha do Estado em particular, em que pese dois meses do atraso de salários. Para os que me conhecem, sabem que não sou de escrever muitos artigos. Mas o momento é oportuno pela conjuntura com que esse movimento ganhou força. E as voltas da vida e seus desafios nos impõem reflexões e lições para serem levada às gerações de hoje e do futuro.
Algumas e alguns dos frágeis colegas na aparência daquela redação se mostraram firmes nas suas convicções e objetivos. Eles não foram forjados na luta de líderes sindicais tradicionais. Nem tão poucos batizados nas ideologias revolucionárias. Elas e eles chegaram aos poucos junto à luta sindical, da novidade da guerrilha virtual das redes sociais à presença física e falas com brilho nos olhos nas duas assembleias realizadas em frente ao jornal. Sabedores de serem sujeitos da história, donos de seus próprios destinos.
Não se calaram, pediram uma intervenção direta do Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso (Sindjor-MT). Cansados de ver e sentir a repetição da praga que antes cabia à imagem do jornal Diário de Cuiabá, que atualmente tem quatro meses de salários atrasados, e que insiste nessa prática aos seus profissionais, mesmo que estes permaneçam no posto de trabalho.
A histórica greve deflagrada por jornalistas das editorias de Cidades, Política e Esportes a partir de zero hora deste sábado de um dos maiores jornais diários de Cuiabá não é pouca coisa. É um grito para dizer aos patrões da mídia que não é possível mais ficar nesse faz de conta de que tudo vai bem na imprensa. Não vai, sabemos. Não vamos nem aqui enumerar o atrelamento covarde ao poder político e econômico.
E por que não está tudo beleza? Porque há uma dupla punição aos cidadãos que todos os dias querem ser feliz com o que escolheram para viver dignamente: a profissão de jornalista. Primeiro porque eles trabalham de sol a sol, se expõem, correm riscos e não têm o merecido retorno pela venda da sua força de trabalho.
E segundo porque como contribuintes recolhem impostos ao poder público e este retorna parte desse dinheiro ironicamente em anúncios para os donos do quarto poder acumularem riqueza e terem chácaras, vida mansa, patrimônio crescente. Um contraste com a vida de jornalistas com as contas a pagar que pipocam nos seus endereços, dificuldades até de ir e vir e não remuneração pelo que desempenham.
A história nos mostra que homens e mulheres vencem pelas atitudes. E a postura de parte dos jornalistas da Folha do Estado com o movimento de greve os colocam no alto degrau da categoria.
E como bem frisou a direção do Sindjor-MT em nota emitida na noite desta sexta-feira, “trabalhadores da imprensa mato-grossense e a direção do sindicato se sentem envergonhados por ter que realizar duas assembleias em uma semana para discutir o justo pagamento do salário em dia, um direito mínimo para sobrevivência de todo trabalhador”.
Basta de salários atrasados. Jornalistas de outras redações, como do Diário de Cuiabá, já lembrado, uni-vos e vamos nos utilizar de nossas ‘armas eletrônicas’ para produzir maior clamor e sensibilização aos nossos patrões nesta segunda-feira (28) e tuitar o hastag @JornalistasnaForca.
E à parte dos valentes e heróicos jornalistas do jornal fica o estímulo e a certeza de que uma etapa da batalha foi obtida, mas ainda temos que construir a luta por dias melhores na profissão. Ela deve ser de modo organizado, sistemático e inteligente, continuamente no respeito de sermos porta-voz da comunidade.
É por isso que a convocação é diária para dar um fim na ação inescrupulosa daqueles que roubam o suor, o talento e uma porção da alma dos que se dedicam a contar a crônica da cidade, um pedaço da história e todos os sentimentos de nossas vidas.
Jonas da Silva é diretor do Sindjor-MT e jornalista com muito orgulho formado pela UFMT