Homicidas etílicos
Dizem estatísticas oficiais que motoristas bêbedos são responsáveis por 65% dos acidentes de trânsito. Disso se infere que a mistura de bebida com volante mata 140 brasileiros por dia. Já é hora de reagir a essa matança. O bafômetro está cada vez mais presente para desestimular os que bebem a dirigir. Mas ainda não se notam resultados. Todos os dias o álcool mata. Pessoas na calçada, na faixa de pedestre, na parada de ônibus, garis trabalhando, jovens voltando de festas, famílias inteiras em carros atingidos por um bêbedo. O álcool desinibe, o motorista se julga um especialista no volante e o pé afunda no acelerador. Depois os corpos afundam nos cemitérios.
Quem insiste em beber e dirigir é informado por seus cúmplices, pelo celular, onde estão as blitzes. São as redes sociais a serviço da estupidez. E quando o motorista é parado pela fiscalização, e bebeu, é protegido por um princípio jurídico que estabelece que "ninguém é obrigado a produzir prova contra si". Recusa-se a soprar no bafômetro, confiando que o exame seguinte, no IML, ainda pode demorar horas, enquanto o álcool vai sumindo do sangue. Juristas que conseguem provar que um assassino é inocente, poderiam também demonstrar que o interesse do indivíduo não pode estar acima do interesse da comunidade. Um bêbedo é perigoso para a vida de todos os que partilham das ruas com ele. Eticamente, ele precisa ser impedido de ser um perigo para vidas alheias. E a ética precisa ser mais forte que o etílico.
Muita gente está pensando em mudar a lei, para torná-la mais severa com o motorista alcoolizado. O motorista bêbedo, que geralmente fica impune porque é enquadrado em homicídio sem intenção de matar, em geral o máximo que paga é um punhado de cestas-básicas. Ora, homicídio doloso dá-se quando o matador assume o risco de causar dano a alguém. É o caso de quem assume o volante depois de beber. Na internet, circula um abaixo-assinado pedindo leis mais duras. A OAB também quer que a lei proteja os que estão sob risco por causa de motoristas bêbedos. E tramitam na Câmara e no Senado projetos que buscam salvar vidas pegando os bêbedos. Serve até para prevenir, para avisar que depois da bebida não se pega a direção, ou o castigo pode ser muito pesado.
Nos países civilizados, a lei é muito dura para o coquetel de volante com álcool. Nos países semi-civilizados, a lei é mole ou não é aplicada, há impunidade, a fiscalização é fraca e a parte mais atingida é a que sofre a ação do bêbedo: as vítimas e suas famílias. Se quisermos nos civilizar, temos que acabar com essa selvageria.
Alexandre Garcia é jornalista em Brasília