Aspirador de pó
Ainda ecoam nos corações dos brasileiros as palavras da corregedora do Conselho Nacional de Justiça, Ministra Eliana Calmon: "A magistratura hoje está com gravíssimos problemas de infiltração de bandidos, que estão escondidos atrás das togas." O presidente do Conselho e do Supremo, Ministro Cézar Peluso, reagiu: "Em 40 anos de magistratura, nunca li coisa tão grave. É um atentado ao estado democrático de direito". De 39 magistrados pegos em operações da Polícia Federal, 31 foram denunciados à Justiça; só sete foram julgados, apenas dois condenados e apenas o juiz Lalau, da Justiça do Trabalho, está preso. Assim mesmo em casa. A palavra "bandido" da Ministra é até insuficiente para quem, conhecedor das leis, e julgador em nome da sociedade, vende sentenças.
Dias antes, outra mulher, a deputada Jaqueline Roriz, foi julgada ante uma prova cabal: a gravação em vídeo em que ela recebe 50 mil reais de dinheiro sujo, certamente desviado dos nossos impostos, para custear a campanha que a elegeu deputada federal. 265 deputados exorcizaram o espírito da lei da ficha-limpa e consideraram que não há quebra de decoro, porque ela recebeu o dinheiro antes de ser deputada.
Entre a mulher-coragem, Eliana Calmon, e a mulher-dinheiro sujo, Jaqueline Roriz, aparece agora uma terceira mulher. Justamente a Secretária da Mulher, Deputada Iriny Lopes. Ela pediu ao CONAR que retire do ar um anúncio da lingerie Hope com Giselle Bündchen. Giselle aparece dando más notícias ao marido: que bateu o carro dele, estourou o cartão dela e dele e que "mamãe vem morar com a gente". Primeiro, dá as notícias toda vestida e o anúncio mostra que é a forma errada. Depois, mostra Giselle, toda graciosa e de lingerie, dando a notícia do modo certo.
A Ministra alega que "a propaganda promove o reforço do estereótipo equivocado da mulher como objeto sexual de seu marido e ignora os grande avanços que temos alcançado para desconstruir práticas e pensamentos sexistas". Não entendi que diabo quer dizer "desconstruir" mas o resto,o tal de equivocado, entendi. Dona Iriny acha que mulher que vende cerveja se oferecendo para os homens, não tem problema, mas mostrar-se como objeto sexual do marido, não pode. Por conseqüência, marido não pode ser objeto sexual da mulher. Coisa de Iriny e de Irã. Dona Iriny, pelo jeito, não conhece um bom casamento. Tenho certeza de que ela vai aprovar uma propaganda do tipo: "Satisfaça um sonho de sua mulher. Neste fim-de-semana dê a ela um belo aspirador de pó."
Alexandre Garcia é jornalista em Brasília