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Domingo - 08 de Maio de 2011 às 18:31
Por: Lourembergue Alves

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Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta.

Viajar é uma das ações dos governantes. Ação que pode trazer benefícios extraordinários para o município, Estado e o país. Assim, em menos de trinta dias, o governador mato-grossense realizou duas viagens internacionais. A primeira delas, entre os dias 1º e 8 de abril, para os Estados Unidos, com o fim de participar de um evento que tinha como foco as inovações da área tecnológica; já a segunda, de 28 de abril a 2 de maio, para avaliar a funcionalidade do sistema VLT - um modal de transporte alternativo de mobilidade urbana, e que despertou o interesse da sociedade, até pelo seu caráter moderno, cuja implantação impulsionará Cuiabá e Várzea Grande para o século atual em matéria de transportes.

Percebe-se, então, a relevância do dito sistema. Bem superior do chamado BRT, defendido pelo governador passado e até recentemente adotado pelo peemedebista-governador e pela Agecopa. Tanto que já se tinha, inclusive, a aprovação do financiamento para o Bus Rapid Transit (BRT, ‘trânsito rápido de autocarros’). Situação que foi completamente mudada, de uma hora para outra, a favor do VLT. Tão logo se ouviam vozes contrárias vindas da Assembleia Legislativa, dissociadas dos burburinhos das ruas e sem quaisquer cuidados técnicos.

Essa onda levou também, de roldão, a opinião pública, e esta passou a desqualificar quem saísse em defesa do BRT. Faltava, no entanto, o parecer técnico a respeito. Daí a ideia de uma visita à cidade do Porto (Portugal). A comitiva era assim composta: Silval Barbosa, José Riva, Sérgio Ricardo, Guilherme Maluf e Eder Moraes. Exceto este último, presidente da Agecopa, oriundo do setor bancário e há alguns anos na administração pública estadual, os demais são políticos, ocupantes de cargos eletivos. Nenhum deles, contudo, tem formação ou experiência de trabalho na área de transportes, tampouco é engenheiro ou algo parecido. Pior ainda, não se fizeram acompanhar por alguém do ramo em questão, com conhecimento bastante do desenho arquitetônico cuiabano e várzea-grandense.

Por outro lado, o governador cometeu um segundo grande deslize, a saber: não prestou contas da viagem. Aliás, nem da primeira, e, muito menos, da segunda. Frases soltas, no programa oficial ‘Bom dia, Governador‘, não podem ser consideradas prestação de coisa alguma. Tampouco devem ser tidas como tal, respostas desencontradas em depoimentos concedidos a imprensa.

O exigido, evidentemente, era a apresentação de um relatório da viagem, no qual se pudesse visualizar os pontos positivos e negativos do sistema VLT, bem como as informações obtidas a respeito - fruto de estudos técnicos -, inclusive juntamente com os prováveis inconvenientes encontrados nas avenidas da Capital mato-grossense, somados com os custos do referido empreendimento, e o preço final para o usuário. O anúncio da contratação de uma empresa de consultoria, somente agora, não elimina os desacertos da dita viagem que, na verdade, não passou de turismo oficial, assim como fora a primeira.

Vale lembrar: a democracia é o governo do ‘poder visível‘. Nada, portanto, deve estar confinado no espaço do mistério, nem empurrado para debaixo do tapete. Como regime do poder visível, a democracia exige a participação de todos os cidadãos.

Terceiro deslize cometido pelo governador. Pois não ouviu o que pensa a população sobre o VLT e o BRT. Aliás, essa mesma população sequer foi ouvida no governo passado, quando se optou pelo BRT.

Pobre povo, à mercê de rompantes ou ‘achismo’ dos governantes!

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: lou.alves@uol.com.br


URL Fonte: https://toquedealerta.com.br/artigo/579/visualizar/