Ego, vaidade e ranzinzas
Queda de braços interminável. Os dois ex-presidentes demonstram ter uma resistência de causar inveja a qualquer adolescente. Aliada à força de vontade fora do comum. Pena que tais predicados são utilizados tão somente para massagear os egos deles próprios. Ranzinzas, fazem da mídia seus palanques permanentes e do eleitorado, a platéia necessária.
Quadro enfadonho. Agravado quando se percebe a falta de interesse de ambos com os temas considerados sérios e relevantes para a nação. Mais ainda por parte do ex-sindicalista, que prefere posar de ‘estadista’ e autodenominar ‘maior’ administrador público federal, uma vez que ‘mudou a cara do país’, pois ‘nunca na história deste...’ e por aí vai a sua retórica desprovida de conteúdo; enquanto o sociólogo, lá do alto de sua ‘arrogância acadêmica’, em respostas as ‘críticas‘ do ‘seu opositor‘ sobre o artigo ‘o papel da oposição’, que escrevera recentemente, fez o seguinte desafio: ‘O Lula, lá de Londres, refestelado na sua vocação nova, ainda se dá ao direito de gozar que estudei tanto tempo para ficar contra o povo. Ele se esquece que eu o derrotei duas vezes e quem sabe ele queira uma terceira, eu topo’.
Desafio desnecessário. Até porque não parece que a população esteja interessada em uma disputa entre FHC e Lula pela presidência da República. Mesmo que a população torcesse para ela acontecer, não seria ‘uma boa’ para os oposicionistas que, com tal disputa, cometeriam suicídio político coletivo.
De todo modo, no entanto, continua a briga entre os dois ex-presidentes. Briga que não tem data para terminar. Sobretudo, agora, com o uso do livro didático, pago com dinheiro do contribuinte e o aval do MEC. O ‘Nova História Crítica’, por exemplo, no dizer de Ali Kamel, faz propaganda política eleitoral do PT. Partido que ‘chegou ao poder com a responsabilidade de’ ‘manter a inflação sob o controle e combater a desigualdade social no Brasil, onde 54 milhões de pessoas vivem em situação de pobreza’.
Mais recentemente, a Folha de São Paulo (01/05) traz a seguinte denúncia: ‘Livros aprovados pelo MEC criticam FHC e elogiam Lula. Obras atacam privatizações feitas pelo tucano e minimizam o mensalão’. O livro ‘História e Vida Integrada’, além de enumerar problemas do governo FHC, cita denúncias de compra de votos no Congresso para a aprovação da emenda que permitiu a recondução do tucano à presidência, somadas a uma lista de dados negativos, e, escondido no meio desses dados, um positivo: as melhorias na educação e a Lei de Responsabilidade Fiscal. Diferentemente do que é veiculado a respeito do governo Lula, pois evidencia a ‘inovação no estilo de governar‘, enquanto ao mensalão é destinado um espaço insignificante, escamoteado que é por uma série de dados positivos. Aliás, o mensalão não aparece em vários livros, os quais destinam espaços para as críticas à política de privatizações, e em ‘História em Documentos’, a eleição de FHC é atribuída ‘ao sucesso do Plano Real’ e ‘a aliança com políticos conservadores’, cuja trajetória está marcada com a sustentação da ditadura. ‘Quando o assunto é o governo Lula, valoriza a luta do PT contra a ditadura e apenas cita que o partido fez concessões ao fazer alianças com siglas adversárias’.
Não se deve exigir neutralidade de escritor algum, mas seu comprometimento com a verdade. Ainda que esta não seja a apregoada por quem compra o fruto de seu trabalho. Afinal, é tarefa primeira do MEC contribuir com a formação educacional dos jovens, sem que para isso venha favorecer ou a FHC ou a Lula. Políticos que insistem em não sair do palanque, e fazem do bate-boca que trocam oxigênio para seus próprios egos, e alimento para suas vaidades.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: lou.alves@uol.com.br