Adotar é diferente do viabilizar
A Operação Lei Seca, viabilizada pelo governo fluminense, vem sendo bastante elogiada. Não é para menos. Pois ela contribui, e muito, com a diminuição do número de mortes decorrentes de acidentes de trânsito. Talvez, por isso, tem despertado interesse de outros Estados, os quais pretendem copiá-la.
Contudo, não basta tão somente adotar a referida operação. É necessário, igualmente, atrelá-la diretamente ao chefe do Executivo, sem que haja qualquer espécie de intermediário entre o governador e as equipes de trabalho, a não ser a Secretaria de Governo, que faz chegar às mãos do mandatário-mor o relatório diário dos trabalhos.
Aliás, é exatamente esse cuidado que garante o sucesso da dita operação. Composta de cento e oitenta integrantes, os quais se distribuem em sete equipes. Formadas por multiprofissional. São agentes da Polícia Militar, da Secretaria Estadual de Governo, do Detran, da CET-Rio, da Guarda Municipal e três dezenas de pessoas. Estas trazem, no próprio corpo, as marcas da violência no trânsito e a demonstração de que o álcool e o dirigir, definitivamente, não combinam.
Percebe-se aí o lado pedagógico da operação. Característica que se associa ao da punição, suscitada na perda da carteira de habilitação, na retenção do veículo, nas multas e na prisão. O pedagógico e a punição, por outro lado, felizmente, estão voltados para a preservação da vida. O que relaciona a Lei Seca entre as ações de política pública.
Uma política que exige o comprometimento da sociedade. Comprometimento que se soma ao dos integrantes da operação. Embora se saiba que a mais dura das tarefas está a cargo dos responsáveis pela operação. São eles que devem fazer do trânsito um espaço ocupado por iguais. Espaço onde o cargo ocupado, a conta bancária e o compadrio não sejam passaportes para que alguém possa sentir-se livre do rigor da lei. Neste sentido, de acordo com os noticiários, o Rio de Janeiro está de parabéns. Pois os agentes da Operação Lei Seca já barrou artistas famosos, senador e desembargadora.
Proeza que, infelizmente, é bastante difícil de ser registrada em Mato Grosso. Por aqui, sempre haverá um parente ou até mesmo o próprio ‘rei‘ a desafiar às regras, com a lengalenga do ‘você sabe com quem está falando‘. Atitude inapropriada para o momento histórico e político vivido pelo país.
Isso se torna mais preocupante quando se suspeita que o governador, dificilmente, irá assumir diretamente a chefia dessa operação no Estado. Até para não se ver em apuros com os coronéis da política regional, com os demais agentes públicos - espalhados pela administração pública, Judiciário e Assembléia Legislativa.
Soma-se a essa situação, já complicada, o não apoiamento dos prefeitos. Pois estes - particularmente os das grandes cidades, em especial o da Capital - jamais vão assumir parte da culpa pela indisciplina do trânsito, ignorando assim o fato de que as calçadas transformaram-se em extensão de bares, lojas, restaurantes, etc.
Retrato, portanto, negativo. Capaz de inviabilizar a Lei Seca. Isso impede - ainda bem - que a população venha a usar o verbo copiar no lugar do viabilizar. Este e aquele, em nada, se parecem.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: lou.alves@uol.com.br