Domínio de mentes e corações

Talvez se possa dizer que hoje o domínio de gentes e povos não se faz com presença física, mas por outros meios. O exemplo é o domínio que a Inglaterra e os EUA têm na mídia mundial. Influenciam mentes e corações. Determinam quem presta ou não no mundo. A construção da noticia positiva ou negativa é que é interessante.

Pegue o caso do casamento do príncipe inglês, William, com Kate Middleton no dia 29 de abril. Tive a curiosidade de ir ao Google dar uma olhada nas noticias. Tem mais de 1.6 milhão de inserções sobre o assunto publicadas no Brasil.

O que impressiona é como a nossa mídia, sem nenhum filtro, apanha e publica a notícia como os ingleses querem que sejam publicadas. Dou alguns exemplos delas. Que, diga-se, são distribuídas magistralmente em dias e momentos diferentes.

Como será o vestido da noiva. Quantos convidados. Os noivos "desprezam a pujança nos presentes de casamento", agradam os plebeus. Como será a carruagem e por onde transitará. Custo da festa. O vestido dela é "segredo de estado". Você sabia que no buquê dela haverá um ramo da "erva do amor"? Não é charmoso dar a notícia para o mundo inteiro que o príncipe está nervoso com o casamento, que as "pernas têm tremido"? Tenha a santa paciência.

Quer mais? O casamento será editado em disco e vendido no mundo todo. O casal Beckham estará no casamento. Elton John "implorou para participar do casamento". O príncipe deu o anel de sua mãe, Diana, para a noiva. Haverá copos, toalhas, talheres com os rostos dos noivos. Há história dele e dela, dos pais, dos amigos, onde estudaram ou trabalharam. Não há uma notícia negativa.

Essa construção é que encanta. Parece que tem um lugar na Inglaterra que monta o espetáculo para o mundo. As noticias são tão bem montadas e distribuídas que criam um clima de que se vai casar o príncipe não da Inglaterra, mas do mundo. No dia 29 estaremos todos em frente a televisão prestando homenagem ao nosso príncipe e futuro rei. Tenha a santa paciência outra vez.

Termino contando, diferente do de cima, um caso de desconstrução de imagem feita pelo governo e mídia dos EUA. Manoel Noriega era presidente do Panamá e amigo dos EUA. Virou a casaca e fazia enfrentamento com aquele país. Bush-pai resolveu tirá-lo do governo à força.

Mas antes da ação militar montou pela mídia uma desconstrução da imagem do panamenho. Foi um massacre tão eficiente que a América Latina inteira aplaudiu a retirada dele do governo. E concordou até que ele fosse julgado em corte norte-americana e condenado como traficante de drogas. Antes nunca fora acusado disso. Está preso nos EUA. Ninguém nunca perguntou se era verdade ou não o que os norte-americanos contaram para a gente.

Mas não se preocupe com isso, no dia 29 o nosso príncipe casará e resolverá todos os nossos problemas. Gostamos de conto de fada.

Alfredo da Mota Menezes escreve em A Gazeta às terças, quintas e aos domingos. E-mail: pox@terra.com.br. Site: www.alfredomenezes.com