Era uma vez...
"Era uma vez, uma administração pública promissora, com a qual os cidadãos viviam felizes e contentes" - iniciava-se desse modo o e-mail que ora chegou a esta coluna. Tanto que o seu gestor teve, logo, "seu contrato de trabalho renovado por mais quatro anos", prosseguia a dita correspondência. Rejeitava, assim, "e de imediato qualquer troca ou substituição". Mesmo que "fosse por alguém oriundo de família tradicional do lugar, gente que trazia na bagagem a experiência de administrar e a fama de ser bom articulador".
Trata-se de um e-mail bastante instigante. Não só por trazer um quadro recente. Fotografado por quem observa a tudo e a todos, dos mais variados ângulos, sem ser notado. Pois ele não exerce cargo público algum; nem tem o microfone, câmera e os espaços da mídia como instrumento de trabalho; tampouco tem parentesco com quaisquer figurões da política local. Caminha, assim, "livre, leve e solto". Diferentemente de outrem, cujas tarefas de olheiros se encontram atreladas a determinados grupos políticos, cacique ou interessado em que a atual gestão se dê mal, e, então, retome ao posto de proa do município.
Nada disso! O missivista parece perambular despido dos laços de compadrio. Para ele pouco importa o nome do alcaide-mor. Mas, isto sim, quais são suas ações e a contribuição delas para as comunidades? Propósitos que o fizera observador espontâneo e cuidadoso. A ponto, por exemplo, de tecer duras críticas aos integrantes da Câmara municipal, os quais "estão aquém do comprometimento público" e alheios "a responsabilidade". "Só votaram pelo afastamento do prefeito e do vice, empurrados por alguém de fora", altamente "interessado nas disputas eleitorais de 2012".
Palavras duras, fortes, sem, contudo, estarem deslocadas do tempo e do espaço vividos, ou desenraizadas do contexto político e histórico da "Cidade de Couto Magalhães". Isso porque, há muito, os vereadores deveriam ter tomado uma decisão. Pois as denúncias pipocavam de todo lado, e eles as ignoravam, assim como fizeram com os pedidos de investigação que chegaram aos montões. O que os compromete sobremaneira, e os tornam, segundo o dito e-mail, "co-autores da situação reinante".
Contudo, é preciso dizer, "o afastamento do prefeito e do vice deve ser considerado", ainda que tenha se dado sobre os tijolos do "desrespeito a defesa" - completa. "Preceito imprescindível no Estado de direito e democrático", pondera o autor do e-mail em questão. Para mais adiante afirmar: "Esse afastamento", no entanto, "não deve ser utilizado para escamotear a irresponsabilidade e a ausência de comprometimento público de políticos" que, quase sempre, "fazem da Casa Legislativa balcão de negócios".
O autor do e-mail, portanto, deixa escapar o próprio descontentamento com todos. Incluídos, aqui, o Ministério Público. Não sem antes reconhecer parte da culpa. Culpa por não ter se manifestado, logo quando surgiram as primeiras denúncias, contra a taciturnidade dos parlamentares municipais que, hoje, conforme suas palavras, "posam de bons mocinhos", "anunciadores de uma nova era".
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: lou.alves@uol.com.br