"É essencial relação entre elementos tradicionais com novas tecnologias"
Cidades têm desafio de conciliar crescimento com sustentabilidade
Antes de qualquer coisa é importante reconhecer a crescente influência das cidades em nossa sociedade. São os locais onde a maioria da população do planeta reside. Em 2050 deverão ser uma ampla maioria, cerca de 70%, segundo dados da ONU. É nas cidades que nasce a maioria das descobertas e inovações científicas. É nas cidades que as decisões políticas e econômicas são tomadas.
O rápido crescimento urbano, muitas vezes de forma descontrolada, como vem acontecendo na maioria dos países em desenvolvimento, gera desafios imensos. Aliás, o século 21 será extremamente desafiador, com a problemática do caos urbano, do aquecimento global, da superpopulação e das prováveis guerras pela água potável. No caso do Brasil, temos ainda outros desafios pela frente, com a realização de grandes eventos esportivos como a Copa do Mundo 2014.
As cidades, para enfrentar o desafio de se tornarem mais humanas, precisam conciliar seu crescimento redesenhando-se a si mesmas, criando ambientes mais seguros, sustentáveis e melhores para se viver. A tecnologia tem um papel fundamental neste contexto. É essencial criar uma relação entre os elementos tradicionais que compõem uma cidade com as novas tecnologias. Mas tecnologia, por si só, será insuficiente. Precisamos repensar um novo modelo econômico, que seja mais sustentável no longo prazo e menos esbanjador de recursos naturais. Precisamos rever os processos de gestão das cidades, considerando que as tecnologias poderão impactar de forma significativa a vida urbana, criando cenários de mudanças, nem sempre rapidamente compreendidas ou absorvidas.
"É essencial criar uma relação entre os elementos tradicionais que compõem uma cidade com as novas tecnologias"
As tecnologias trazem mudanças significativas em seu bojo. No final do século 19, por exemplo, o conselho da cidade de Londres estava diante de um grande problema: como lidar com milhares de toneladas de estrume de cavalo que cobriam suas ruas todo ano? A solução veio com uma mudança tecnológica radical: o automóvel, que simplesmente eliminou a necessidade de cavalos. Assim, entendo que redesenhar as cidades para que elas se tornem mais inteligentes é aglutinar esforços e conhecimentos diversos, como arquitetura, planejamento urbano, engenharia e profissionais de TI (Tecnologia da Informação) de modo que unam o mundo tradicional da TI com o mundo das tecnologias operacionais, que são as tecnologias embarcadas em elevadores, sensores, rodovias, pontes e semáforos. A tecnologia e os sistemas que compõem a cidade deverão estar cada vez mais interconectados e não poderão viver isoladamente.
Com uso de tecnologias podemos repensar os atuais paradigmas de transporte público, segurança, saúde, energia e assim por diante. Podemos também tornar as cidades mais ágeis e menos burocráticas em seus processos. As tecnologias atuais já nos permitem implementar algumas aplicações, tais como:
*Monitoramento remoto de elevadores, detectando problemas até mesmo antes de acontecerem, disparando manutenção preventiva.
*Controle do posicionamento em tempo real de ônibus, caminhões, viaturas policiais, bombeiros e ambulâncias.
*Monitoramento em tempo real da segurança em prédios e vias públicas.
*Medidores eletrônicos que permitem controlar consumo de energia em tempo real.
*Sinalização de semáforos controlada automaticamente, ajustando-se em tempo real ao próprio fluxo de veículos.
*Prevenção e controle de emergências, como enchentes, deslizamentos e incêndios.
*Controle em tempo real da poluição do ar.
*Monitoramento em tempo real de construções como pontes e viadutos, detectando problemas estruturais antes que eles aconteçam.
É uma mudança de paradigmas. Um exemplo: em vez de pensarmos da forma tradicional, ancorados no pensamento dos séculos 19 e 20, resolvendo problemas educacionais apenas construindo mais prédios para escolas, usaremos tecnologias para dar mais agilidade e eficiência ao processo educacional, com uso intensivo de e-learning. O aprendizado assume uma forma mais flexível, abrangendo não apenas a vertente presencial, mas também o uso de tecnologias como smartphones e redes sociais.
"Redesenhar as cidades para que elas se tornem mais inteligentes é aglutinar esforços e conhecimentos diversos, como arquitetura, planejamento urbano, engenharia e profissionais de TI"
criação de Cidades Inteligentes passa por visualização de cenários futuros. Por exemplo, falando em escolas, como será o ambiente delas por volta de 2020? Estamos falando de meros 10 anos à frente, que passam muito rápido.
Difícil imaginar, mas podemos brincar com algumas ideias. Antes de mais nada vamos lembrar que já estamos vendo, principalmente nos países desenvolvidos, crescer uma geração totalmente digital, que convive desde o nascimento com a internet. Celulares, MP3, consoles de games, laptops e redes sociais já são parte diária de sua infância e adolescência. Afinal, eles estarão conectados da hora que acordarem até a hora em que forem dormir.
O acesso à Internet via banda larga será o grande fosso digital. Os países e cidades que puderem dispor de acesso com velocidades adequadas estarão à frente dos demais.
Enfim, podem ser apenas visões futuristas. Meu neto de três anos é que irá me dizer, em 2020, se eu estava certo ou falando asneiras...
*Cezar Taurion é economista, mestre em Ciências da Computação e gerente de Novas Tecnologias da IBM