Sonho e realidade
O Diário Oficial número 25455, de 10 de dezembro de 2010, traz a ata da reunião do Conselho de Administração da América Latina Logística Malha Norte S.A. Ela é que administra a Ferronorte. Abro aspas: "Em 15 de outubro de 2010, às 09:30 horas, reuniram-se os membros do Conselho de Administração da Companhia abaixo assinados e, por unanimidade e sem reservas, aprovaram e autorizaram a celebração do nono termo aditivo ao Contrato de Concessão celebrado entre a companhia e a União Federal em 19 de maio de 1989, cujo instrumento refletirá: 1. Prorrogação do prazo para a construção do trecho ferroviário entre Alto Araguaia e Rondonópolis; 2. A devolução dos trechos ferroviários ainda não construídos entre Cuiabá e Uberaba/Uberlândia, Rondonópolis, Porto Velho, Santarém, para a União Federal, por intermédio da Agência Nacional de Transportes Terrestres. Nada mais havendo a tratar foi encerrada a reunião do Conselho e lavrada esta Ata, lida, aprovada e assinada pelos presentes".
Trazer a ata é apenas reforço ao que se sabia. À América Latina Logística (ALL), que tem a concessão da ferrovia, não interessa construir o trecho até Cuiabá e mais além. Devolveu para a União.
O presidente Lula assinou dias atrás documento para iniciar a outra ferrovia, aquela que passaria em MT por Lucas do Rio Verde. Com essa proposta, mesmo que demore sei lá quantos anos para se construir essa ferrovia, será que a União irá construir o trecho de Rondonópolis a Cuiabá e entregar de graça para a ALL?
Quando falo nesse assunto o faço com cuidado porque ele é sensível para Cuiabá. É um sonho antigo da Capital ter uma ferrovia. Desde que a ferrovia chegou ao hoje Mato Grosso do Sul se fala em tê-la aqui. Não se sabe de onde saiu a informação de que aquela ferrovia viria para cá.
Ela foi construída quase a toque de caixa entre 1912-1914 do interior de São Paulo até a beira do rio Paraguai. Foi a maneira que o governo federal encontrou para afastar o capital e influência argentina e uruguaia em MT.
Pela hidrovia Paraguai-Paraná se fazia todo o comércio do estado. Capital argentino investia em saladeiros em MT. Erva mate do estado ia para os países da Bacia do Prata. Havia uma ligação muito íntima entre o estado e aquela região. O governo federal cortou isso com a ferrovia. Já não se ia mais pela hidrovia lá para baixo. Ia-se até e ferrovia e daí para São Paulo. Um historiador norte-americano, Zephyr Frank, mostra que MT perdeu cerca de 40% de sua renda quando o comércio se desviou do Prata. E, desde aquele tempo, se fala que a ferrovia viria para cá. Dói dizer, o sonho continua distante.
Alfredo da Mota Menezes escreve em A Gazeta. E-mail: pox@terra.com.br; site: www.alfredomenezes.com