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Terça - 21 de Setembro de 2010 às 15:48
Por: Alexandre Garcia

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Alexandre Garcia é jornalista em Brasília
Alexandre Garcia é jornalista em Brasília

A senhora de cabelos brancos abordou-me no cafezinho do shopping: "Vou-me embora para o Uruguai. Aqui não dá mais. Corrupção por toda a parte, falta de vergonha na cara e sem opção para votar." Respondi que o Uruguai seria uma boa opção, onde as pessoas têm vergonha na cara e se vive muito bem. Mas seria bem melhor que as pessoas que aqui vivem manifestassem sua indignação, como em tempos de cara-pintadas. E ela tem razão: quem não concorda com a lista de candidatos, não tem opção.

Os legisladores que fizeram a lei eleitoral, espertamente não deixaram a opção "nenhuma das respostas acima". Que democracia é essa, que não permite o "não"? Todas as opções exigem um "sim". Votar em branco ou anular o voto não muda nada e até favorece os que receberam votos válidos, diminuindo a quantidade de votos necessária para se eleger deputados. Quem votar no Tiririca, em São Paulo, como voto de protesto, estará elegendo outros candidatos com as sobras do milhão de votos que o palhaço vai ter. Elegerá, por exemplo, seu companheiro de partido Valdemar Costa Neto, denunciado no mensalão. Quando Eneas recebeu 2 milhões e 500 mil votos de protesto, elegeu outros cinco, que haviam recebido de 200 a 500 votos. Que lei eleitoral é essa? Que democracia é essa?

Se quisessem ser, realmente, democratas, dariam chance ao "não" se manifestar. Escreveriam na lei, por exemplo, que a eleição estaria anulada se a maioria dos eleitores votasse em branco ou anulasse o voto. Eleição anulada e obrigação de apresentar outra lista de candidatos, já que na lista anterior a maioria julgou que nenhum merecia voto. Teriam coragem de fazer isso, de dar essa chance à democracia? É terrível essa escolha obrigatória do menos ruim, do menos mentiroso, do menos demagogo, do menos envolvido em negociatas - como na avaliação da desesperada eleitora que quer se mudar para o Uruguai. É como ser obrigado a saltar de um prédio, mas poder optar por um andar mais abaixo.

Pesquisa recém publicada pelo Correio Braziliense, encomendada ao Instituto FSB, mostra que 45% dos eleitores da capital do Brasil não votariam se o voto fosse facultativo. 20% não lembram quem foi o antecessor de Lula, 33% não sabem quem é o governador do Distrito Federal e só 9% lembram em quem votaram para senador. Nos últimos dias, um candidato à reeleição para a Assembléia do Rio foi demitido da polícia por formação de quadrilha e concussão; outro foi preso, junto com colegas da Polícia Rodoviária Federal, porque extorquia contrabandistas e empresas de ônibus para financiar campanha para deputado federal; em São Paulo, condenado por roubo teve uma Ferrari apreendida e é candidato a deputado federal. Aí, Tiririca nada de braçada, porque palhaçada é o picadeiro dele.

Alexandre Garcia é jornalista em Brasília e escreve em A Gazeta às terças-feiras. E-mail:

alexgar@terra.com.br



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