Futuro provável (2)
No correr da semana publiquei neste espaço artigo com o mesmo título deste. Recebi preciosas contribuições e a discussão ampliou-se em torno do tema. Para quem não leu, o resumo é que a posição mundial pós-crise de 2008-2009-2010, mudou a posição de hegemonia dos Estados Unidos e da União Européia, e colocou no primeiro plano os emergentes chamados de Bric – Brasil, Rússia, Índia e China. Nesse cenário a China atualmente, e a Índia a médio prazo, vão demandar alimentos em quantidade extraordinária e regular, com garantias de compromissos permanentes. Isso significa dizer que deverão acontecer parcerias entre o Brasil, principalmente, e a China nessa questão da oferta de alimentos para uma população de 1,5 bilhão de habitantes.
Por isso a questão da infraestrutura deverá ser financiada de modo muito mais facilitada ao Brasil, e nesse particular a Mato Grosso, para garantir menores preços de produção, segurança no escoamento e certeza do fornecimento. Sabidamente temos uma infraestrutura inadequada para cenários desse porte, mss temos produtores agrícolas pendurados na ineficiência dos bancos oficiais burocráticos travestidos de financiadores, mas revestidos de algozes que não enxergam os cenários. De outro lado, os mesmos produtores acabam escravizados pelas chamadas “trades” internacionais, que dominam as cadeias do sistema de produção, desde a semente, o adubo, as tecnologias, os defensivos, até a compra, a transformação, a exportação e a comercialização na ponta.
Todo o esforço do produtor morre dentro da fazenda e penaliza a produção. Em troca, as “trades” financiam as safras mediante hipoteca da produção, enquanto os bancos oficiais hipotecam as propriedades que valem dezenas de vezes mais que o valor financiado. Qualquer ruído no pagamento, inviabiliza o produtor para sempre.
Essa distorção tem gerado a incompreensão da sociedade e desenvolvido até preconceitos contra os produtores, na errada impressão de que eles “sugam” os ditos bancos oficiais. Na realidade, os bancos “vampirizam” o produtor, geram esses mal-entendidos, e as “trades” sufocam os que já não podem mais ter acesso ao crédito bancário.
Essa péssima equação pede uma série de medidas novas, porque lá na ponta, a produção do agronegócio garante 38% do superávit da balança comercial brasileira, e move grande parte do mercado interno, dois fatores de peso na nova posição do Brasil diante do mundo. No fundo, estamos falando de políticas velhas inadequadas para os cenários mundiais econômicos e políticos atuais e futuros.
Aqui entra a posição provável da China em financiar a expansão da infraestrutrura viária de estradas, ferrovias e hidrovias no Brasil, já que o governo brasileiro gasta mais com o seu custeio do que arrecada, e não tem recursos para investimentos necessários nesse setor. Porém, resolvida a infraestrutura, a produção virá atrás, como veio lá atrás, abrindo as áreas de produção contra tudo e contra todos, quem sabe seja capaz de gerar a mínima sensibilidade do poder público com as políticas de produção econômica no País. O governo brasileiro é autêntico gigolô da economia. Fala, fala, arrecada uma carga enorme de impostos e não devolve o básico para a produção.
No próximo governo que se iniciará em janeiro de 2011, as agendas deverão, necessariamente, incluir esse tipo de discussão: que Brasil o Brasil quer ser?
Voltarei ao assunto.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
onofreribeiro@terra.com.br