De quem é a culpa pela fumaça sufocante?
Já ficou mais do que comprovado que o atual ritmo das queimadas em Mato Grosso tem pelo menos um viés criminoso numa ponta, ao se constatar matas com ação do fogo na beira de estradas na região Norte de Mato Grosso, na área urbana de Cuiabá e próximo à capital. É o caso que ocorreu na semana passada no Parque Nacional de Chapada dos Guimarães, com 9 hectares destruídos pelo fogo, e a queima de 300 hectares em Santo Antônio do Leverger no final de semana. Sem falar da tragédia de Marcelândia em agosto.
Em outra situação adversa contra as queimadas, a falha é de quem deveria ajudar a fiscalizar e prevenir para que o ar que respiramos na região metropolitana de Cuiabá e em Mato Grosso não seja igual àquele saído de uma chaminé. E nessa outra falha, estamos todos nós cidadãos, que ficamos imóveis, sem reação, asfixiados pela fumaça que aumenta a cada dia.
Não bastam só umidificadores, toalhas, baldes e bacias com água. Temos que ter mais atitude. Somente com a mobilização popular é que vamos conseguir avançar para ter um ar respirável e uma qualidade de vida digna dos nossos esforços cotidianos.
Mas o que preocupa não é apenas esse tom de tempo nublado ou sombrio que nos rouba parte da vida, com umidades de alerta do ar em 10% a 13% em Cuiabá e Várzea Grande. Recorro ao exemplo de Marcelândia para ilustrar a falta de compromisso de nossas autoridades. Sim, pois informações como do Sivam, do Inpe e outras ferramentas de planejamento do setor público são de conhecimento bem antes dessas pessoas que tomam decisão. E se alguém não agiu para preparar ação preventiva, fiscalizar mais e dispor antecipadamente de recursos extras é porque omitiu ou ignorou informações científicas. E tem mais: todos os anos, entre junho e setembro é sabido do nível de seca que atinge Mato Grosso. Ou seja, o risco de termos focos de calor e incêndios é enorme. É só olhar para anos anteriores.
E as nossas autoridades devem ser responsabilizadas sim. Desde o presidente, ministros da área ambiental e da agricultura. Assim como o governador, secretários estaduais, prefeitos e seus auxiliares em todo Mato Grosso. Inclusive com processo judicial, por danos ambientais e gastos com a nossa saúde. Principalmente nossos parlamentares. Estes erram duplamente, pela ganância de querer desviar dinheiro público para seus grupos no poder, como comprovam processos na Justiça e operações da Polícia Federal, e por não fiscalizarem ações do Poder Executivo.
Porque eles são pagos com o assalto dos impostos aos nossos bolsos. Têm que prestar contas do que fazem ou deixam de fazer. Eles devem trabalhar para dar benefício à população com suas atividades nos órgãos públicos em que estão. Até os agricultores não podem ficar fora dessa responsabilização de terra arrasada em que se transformou Mato Grosso. Assim como outros empresários urbanos que colocam fogo deliberadamente em quintais, lotes. O mesmo que faz parte da população.
As pessoas também podem e devem atuar para livrar-nos deste clima de terror ambiental. Existe mecanismo de orientar autoridades sobre o que ocorre na comunidade. Chamar uma emergência, o Corpo de Bombeiros e outros meios de conter a destruição imediata de reservas naturais e a nossa saúde aos poucos.
Ficar aí parado, só a tossir e criticar não resolve. É preciso mudança da forma de agir. Ou seremos engolidos pela fumaça e a poluição, ao sermos destruídos bem devagar, como um peixe que morre pela boca.
* Jonas da Silva é jornalista em Cuiabá, Mato Grosso