Espero estar errado
Na Argentina, o governo de Cristina Kirchner quer estrangular os dois principais grupos de comunicação do país: El Clarin e La Nacion. Primeiro arrumaram uma confusão em cima da dona do El Clarin com a acusação de que ela tinha adotado crianças de pais mortos pela ditadura argentina.
Depois se criou a Lei da Mídia em que usam artifícios para desmontar e controlar o setor. Até 2011, ano em que Cristina Kirchner busca a reeleição, grupos ligados ao governo e financiados com dinheiro público devem ficar com parte da mídia depois do desmonte.
Fiscais da receita federal de Argentina invadiram uma das empresas que o governo quer calar para fazer uma devassa fiscal. Sindicalistas que apóiam o governo invadiram o prédio de outra empresa de comunicação e ficaram lá por vários dias em apoio às ações do governo.
O governo Kirchner está criando agora mais uma armação para tentar controlar os dois maiores jornais do país. Quer anular, com apoio em sua maioria no Congresso, uma venda feita na década de 1970 aos grupos Clarin e La Nacion de uma empresa de papel para jornais. O governo argentino quer assumir essa empresa e vender o papel para os jornais. Quer controle maior da imprensa escrita do que esse?
Vindo para o Brasil. O receio de muitos é que uma vitória acachapante de Dilma Rousseff possa estender também ao Congresso, principalmente ao Senado. Se isso ocorrer, o controle do grupo no poder não teria limites.
E talvez se concretize a antiga ideia do PT do controle social da mídia. O governo Lula já tentou isso, recuou frente à reação de setores da sociedade. Mas num governo de um PT mais à esquerda, com ampla maioria no Congresso, que sempre é manipulável, poderia surgir algum tipo de controle da mídia.
Não se pode esquecer que no início do governo Lula, quando Gilberto Gil era Ministro da Cultura, se tentou criar um tal de conselhão que acabaria controlando os atos culturais no país. Atuaria até mesmo nas novelas.
Se ocorresse, a mídia e a cultura poderiam ser manobradas no interesse de um grupo no poder. Cria-se um governo hegemônico, quase com pensamento único. Um perigo.
Tem que ser lembrado ainda, como no caso da devassa na Argentina, a quebra do sigilo fiscal de gente da oposição, incluindo a filha de um candidato a presidente, José Serra. Dilma ou o presidente Lula não mandaram fazer um absurdo desses. Também na Argentina a presidente não o fez.
É que, com o aparelhamento do Estado, subordinados querendo agradar ao governante do momento, leva-os a praticar atos estranhos aos cânones democráticos. Outro perigo de governos hegemônicos.
Espero estar errado, mas dá um frio na barriga só de pensar que o Brasil pudesse seguir o modelo que se está criando na Argentina.
Alfredo da Mota Menezes escreve em A Gazeta. Email: pox@terra.com;br site: www.alfredomenezes.com