Jactância paulista
Chega a ser irritante o programa eleitoral do José Serra no horário gratuito da televisão. Repete quase cem por cento o de Geraldo Alckmin quatro anos atrás. É uma paulistinização da campanha.
Apresentam obras feitas em São Paulo e que vão fazê-las no plano federal. Como é que se gastam preciosos minutos mostrando uma clínica de fisioterapia e que se vai levar aquilo para o país inteiro, gente do céu?
O pior, nos dois casos, é que não se mostra a cara do PSDB. O partido marcaria seu terreno ao se posicionar perante o eleitor. O PSDB está perdendo, pela segunda vez, essa enorme chance.
O que o PSDB e a campanha do Serra deveriam fazer seria apontar os erros do governo Lula. Nem que perdesse a eleição. Mas marcaria sua posição. Ganharia para o futuro aqueles que fossem se desencantando com o governo petista. E isso vai ocorrer em determinado momento. Onde o eleitor iria buscar guarida?
Outro equívoco do programa do Serra é querer se mostrar simpático ao Lula e que pode ser a continuação do seu governo. É supor que o eleitor é idiota. Se for para fazer o mesmo, por que colocar no lugar um estranho ao Lula e que pode até fazer mudanças?
O marqueteiro do Serra é o mesmo do Alckmin. Ele é endeusado porque ganhou todas as eleições para governador de São Paulo com o PSDB. Mas ganhar em São Paulo é até fácil. Há uma história peculiar ali.
A oposição ao PSDB foi se autodestruindo eleitoralmente ao longo dos anos por corrupção e outras besteiras. O caso Paulo Maluf é conhecido. Orestes Quércia e Antonio Fleury do PMDB fizeram uma lambança no estado. O PT teve os casos do dinheiro na cueca, aloprados, mensalão. Perdeu credibilidade.
O PSDB, começando com Mario Covas, passando por Alckmin e Serra, não foi ainda acusado de atos não republicanos. Os adversários, perante um eleitorado mais esclarecido, deixaram rastros pelo caminho. Daí que ganhar eleição ali não é uma coisa difícil. Aí querem levar a "experiência" paulista para o plano nacional. Não deu e não vai dar certo.
Há uma arrogância do PSDB paulista por causa dessa superioridade naquele estado. Eles não ouvem ninguém. É, aliás, o estilo paulista com o resto do Brasil. Se São Paulo é o estado mais avançado do país, como é que gente de outros lugares pode lhes ensinar alguma coisa?
O que encabula é a indiferença do PSDB nacional em marcar posição perante o eleitorado como opção a "tudo que aí está". Nem que perca a eleição. O PT está marcando seu território, o PSDB não quis e não quer fazer o mesmo.
Se ocorrer mais uma derrota, a terceira seguida, a coisa pode ficar feia para o futuro dessa agremiação política. Culpa dela mesma que não quis se mostrar como opção clara para o eleitorado nacional.
Alfredo da Mota Menezes escreve em A Gazeta. Email: pox@terra.com.br site: www.alfredomenezes.com