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Quarta - 18 de Agosto de 2010 às 00:07
Por: Alexandre Garcia

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Alexandre Garcia é articulista político
Alexandre Garcia é articulista político

Começou o horário eleitoral obrigatório. Uma imposição que cheira à ditadura soviética, que começou com o então ministro da Justiça, Armando Falcão, no governo militar, com a limitação obrigatória de fotos dos candidatos. Antes, a campanha era livre. Lembro-me de ouvir a rádio Eldorado de São Paulo, nas noites solitárias do interior do Rio Grande do Sul, nos meus tenros anos de eleitor noviço, aparecendo a propaganda: "No dia 3, vote nos dois; Jânio e Milton". Ou entrava o jingle: "Para um Brasil unido e forte/Marechal Teixeira Lott" - e eu não conseguia decifrar onde estava a rima de Lott com forte. Propaganda curta, para lembrar os nomes; nada de chatice longa e vazia.

Pois agora nos impõem, a nós telespectadores e às emissoras de rádio e televisão, o tal horário supostamente gratuito. Gratuito uma ova! A maior parte deles são servidores públicos e estão sendo sustentados por nossos impostos, embora em campanha. A pobreza vocabular denuncia a mendicância mental. Nem mesmo os candidatos e candidatas à presidência da República conseguem construir uma frase sem agredir a gramática, a língua, a lógica. Imagino como devem organizar seus pensamentos. Será que o Brasil não tem nada melhor? Na verdade, são os partidos que temem nos oferecer algo melhor, que acabe por conduzir a uma revolução que lhes tire o nepotismo, o patrimonialismo, revele a hipocrisia do bom-mocismo e conduza ao banimento da política dessas figuras nocivas, nefastas, que hoje comandam associações de interesses que se apropriam da denominação de partido.

Mas desse limão podemos fazer uma limonada. Pouquíssimos conseguem ser artistas tão perfeitos a ponto de enganar as leis físicas do som e da ótica. Na hora em que o candidato põe seus olhinhos dirigidos a nós, a lente da câmera é reveladora como um detector de mentira. É muito difícil não perceber um mentiroso diante de uma câmera. Os olhos são reveladores; desnudam o inconsciente (que muitos chamam de alma).

E a voz, por sua vez, revela quem não tem ideias e lê algo que outro escreveu, e que o candidato nem entende bem de que se trata e erra na pontuação e na entonação. As hesitações mostram suas inseguranças e incertezas e até a indignação fingida soa ridícula.

Assim, o horário obrigatório que começou, até que pode ser aproveitado como uma peneira a separar o joio pela sua grossura. Como a urna eletrônica não nos dá a chance de escolher, se for o caso, um Odorico Paraguaçu, ou um Macaco Tião, ou o velho Cacareco, ou mesmo o saudoso Enéas, pelo menos o horário eleitoral nos permitirá separar os ruins dos péssimos. E, quem sabe, encontremos até algumas pepitas entre o cascalho desse rio caudaloso de candidatos. Se não formos severos assim, não conseguiremos mudar esse pobre Brasil, porque os partidos parecem estar a nos oferecer uma repetição desgastada de opções.

Alexandre Garcia é articulista político e escreve em A Gazeta às terças-feiras . E-mail: alexgar@terra.com.br



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