Projeto Aripuanã
Em julho de 1972, em Campo Grande, um carioca, Pedro Paulo Lomba, entregou ao ministro do Planejamento, Reis Veloso, um estudo sobre a ocupação racional da Amazônia mato-grossense.
Sugeriu a criação de uma cidade científica que "realize o levantamento do capital natural da região, apontando as alternativas não predatórias de seu aproveitamento racional". Ou, como escreveu o CNPq, que o Projeto Aripuanã utilizaria "a pesquisa como instrumento para o desenvolvimento da região e a preservação do ecossistema". Palavras do mundo de hoje usadas quase quarenta anos atrás.
Até o traçado das futuras estradas deveria obedecer as regras criadas cientificamente para "evitar danos econômicos e sociais, além da destruição inútil das reservas naturais".
O projeto teria estudiosos do Brasil e do exterior fazendo levantamento sobre todos os aspectos da Amazônia, que começava a ser conquistada pelo Sul. A ideia era excelente, brilhante mesmo
Tomo como base desse e do próximo artigo várias matérias do correspondente do jornal O Estado de S. Paulo em Cuiabá, naquela época, Oscar Ramos Gaspar.
O governo militar comprou de imediato a ideia do Projeto Aripuanã. Começou a ser implantado em janeiro de 1973. Dinheiro não faltou. No primeiro ano se teve cinco milhões de cruzeiros e no segundo subiu para mais de oito milhões. Estiveram envolvidos no projeto os Ministérios do Planejamento e Interior, mais a FAB, Ipea, Sudeco, Codemat, CNPq, UFMT.
O projeto despertou a atenção do mundo. Chile e Peru quiseram conhecê-lo. A revista Newsweek dos EUA deu cobertura ao assunto. Gabriel Novis, reitor à época, saiu até na revista Veja tendo como pano de fundo o projeto e a ideia da Uniselva.
Era a possibilidade de se ter aqui uma universidade voltada para os problemas da região. Não dava para a noviça universidade competir com outras do Brasil em pesquisas em áreas diferentes, mas com as coisas daqui ela seria imbatível, imaginava-se.
Foi criada a Cidade (científica) de Humboldt em Aripuanã no Salto de Dardanelos. Casas pré-fabricadas foram levadas para lá. A FAB, em aviões Búfalos, levava tudo que era necessário para sua existência. Cobriram uma distância em transporte de quase 230 mil quilômetros. Uma ação geral concatenada para fazer o projeto andar.
Aquilo que foi feito com entusiasmo, depois de certo tempo, foi morrendo. Culpa-se a burocracia de Brasília, a distância de Aripuanã, a falta de cientistas, a incompetência gerencial.
Quando um órgão não conseguia ir em frente com o projeto passava para o outro. O próprio Lomba dizia que o projeto era "um desastre executivo". Ali por 1975, três anos depois de nascer, já sob administração do CNPq, o projeto começou a ser enterrado.
O próximo artigo é a choraminga do articulista pela morte de algo que teria colocado a UFMT e o estado na vanguarda das coisas da Amazônia. Talvez não tivéssemos os desencontros de hoje nessa região.
Alfredo da Mota Menezes escreve em A Gazeta às terças, quintas e aos domingos. E-mail: pox@terra.com.br