O TELEFÉRICO E O EIA/RIMA DE CHAPADA
Quando a inteligência sobrepõe à ignorância todos nós seres bióticos ganhamos. Ganham na preservação da vida, ganham na preservação ambiental, e fundamentalmente na preservação do respeito ao mundo em que vivemos. Portanto a pergunta é? A construção do teleférico no município de chapada dos Guimarães é importante para nós seres humanos? Certamente é! Pois poderá proporcionar um atrativo a mais na exuberante paisagem natural, ofertando uma maior visualização do conjunto, biota e bioma local. É necessário que esse teleférico seja feito no afogadilho? Não! Portanto quero aqui efusivamente parabenizar o ministério público, que tem sabido colocar as coisas no lugar, quando os órgãos ambientais falham em suas funções básicas.
Preservar aquele paraíso natural que Deus nos oportunizou, utilizando-o racional e respeitosamente é dever de todos nós. Infelizmente nem todos os seres humanos têm esse discernimento lógico, todavia os membros do ministério público têm.
Falar do ambiente chapadense é navegar no tempo e na história da formação geológica desse ambiente. Estudos pesquisas e sondagens (Almeida, 1948), revelam que camadas de solo do período Devoniano são contínuas desde o sul de Mato Grosso e Goiás até o norte de Santa Catarina. Geologicamente falando, a formação chapadense no seu conjunto é composta de sedimentos, com sua parte basal formada por arenitos finos, silticos e folhelhos esverdeados azulados, caracterizados por uma estratificação cruzada tabular com conglomerados de seixos contendo restos de invertebrados marinhos (testemunhos oculares=Trilobitos), com solo frágil. Que sobre pressão antropica se quebra facilmente. Portanto vale ressaltar que os solos que compõe a região de chapada dos Guimarães têm formação geológica instáveis, apresentando blocos rochosos de arenitos da formação furnas, material que se desgastam com muita facilidade. Nas escarpas a NE de Cuiabá, os limites destas “séries chapada de cadeias montanhosas” assim definidas por (Almeida, 1954), “São camadas arenosas que constituem a base notável “cuesta” que unem as nascentes dos rios Coxipo- mirins e Cuiabá – mirins, formando as serras de São Jerônimo, Atmã, com os nomes locais de Santa Tereza, Chapada, Coroados entre outras”.
Para compreender e utilizar-se desses recursos e dessas belezas cênicas naturais serras, morrarias, escarpas e paredões, recursos hídricos, assim como da flora e fauna que compõe o conjunto geológico e geomorfologico desse ecossistema, é preciso ter o mínimo de conhecimento da região, para não cometer erros.
Só para se ter uma idéia do que estou falando a distância entre a capital mato-grossense e o município de chapada dos Guimarães é de sessenta quilômetros, com a variação da altitude entre esses dois pontos referenciais de oitocentos metros. Ficando a capital do estado com cento e sessenta e cinco metros de altitude em relação ao nível do mar. E chapada dos Guimarães com oitocentos metros de altitude em relação ao nível do mar. Com isso pode-se afirmar cientificamente que, qualquer alteração ambiental sem bases cientifica ou pressão antropica mal planejada naquela região refletirá imediatamente na capital mato-grossense e por extensão em toda planice pantaneira.
Imagine caro leitores, uma intervenção humana aleatória naquele ambiente de forma brusca, sem critérios sustentáveis, como ficará nossa capital e a planice pantaneira daqui a vinte? Trinta? Ou cinqüenta anos? Aliado a tudo isso se junta a forte pressão antropica que reina atualmente no estado de mato grosso, projete tudo isso para o futuro e verá do que estou falando. Há três décadas venho pesquisando a biogeografia regional visando entender as modificações ambientais provocadas pela atividade humana no ecossistema, posso assegurar que há uma significativa modificação no ambiente natural da região nesse período. Portanto é preciso mais do que nunca usar a ciência, a consciência, a ética e Fundamentalmente a inteligência. Parabenizo mais uma vez o ministério público por existir, e por suas ações a favor da continuidade da vida em sua plenitude.
Romildo Gonçalves é Biólogo, Mestre em Educação e Meio Ambiente, Especialista em Queima controlada, e Doutorando em Agric/Tropical/ufmt
romildogoncalves@hotmail.com