O subterrâneo emerge

Em 21/1/2016 escrevi neste espaço o artigo ‘Brasil subterrâneo‘. Foi classificado de utopia, porque naquele momento começavam os primeiros movimentos contra Dilma Rousseff, o PT e a corrupção no Brasil. Muitos leitores me perguntaram em que país eu vivia. Realmente, naquele momento parecia mesmo difícil acreditar no mínimo senso de justiça no país. Quanto mais se mexer na caixa preta histórica da corrupção!

Impeachement ainda era sonho vago. Lula e Dilma ainda surfavam na popularidade. Renan Calheiros, Eduardo Cunha mandavam e desmandavam. Etc.etc.

Vou dar um salto no tempo e trazer a questão aqui pra perto de nós. Vamos apontar dois outros sinais que emergem do Brasil subterrâneo.

Na semana que passou a população de Campo Verde, município a 120 km de Cuiabá, iniciou um movimento muito consistente pra reduzir o salário dos vereadores locais. Cairia de 5,8 para 2,3 mil reais, igualando-se ao dos professores. A onda pegou. Os vereadores entraram no túnel do revisionismo que vai além. Nos municípios os vereadores estão vivendo o seu inferno astral. Dão poucas respostas e custam muito caro. Sinais de cobrança da população estão visíveis.

Outro cartel que está na mira da sociedade são os funcionários públicos. Saíram da sua nobre função primordial e tornaram-se corporativos, presas dos seus interesses funcionais. Pra isso, abandonaram a essência do profissionalismo e se tornaram muito mal vistos pela sociedade. Deixaram-se colonizar por sindicatos e perderam a raiz da sua legitimidade. Custam caro, tem privilégios, fazem greve, prestam péssimos serviços e defendem salários crescentes e outras vantagens. Comparativamente ao mundo privado, vivem numa ilha de prosperidade.

A sociedade paga os impostos mais caros do mundo e tem um dos piores serviços públicos do mundo. O corporativismo protege num momento, mas condena no momento seguinte. À medida em que se desnuda a ineficiência do Estado, e a lupa mostra gente corporativa fugindo das suas responsabilidades profissionais.

Claro que a ira da sociedade que começou sumindo das urnas ou anulando o voto, não vai parar por aí. Vai mexer muito na chamada máquina do Estado. É o Brasil subterrâneo ganhando vida e começando a responder à indignação de 205 milhões de brasileiros mal-assistidos, apesar de pagarem caro pra não ter serviços públicos essenciais.

Onofre Ribeiro é jornalista em mato Grosso. E-mail:onofreribeiro@onofreribeiro.com.br www.onofreribeiro.com.br