Lições e eleições
Acaba hoje uma das eleições mais emblemáticas dos últimos tempos. Elegeu prefeitos e vereadores, figuras menores na constelação da política. Mas é no município onde vivem e choram os 205 milhões de cidadãos do país. Bom lembrar que o voto tem sofrido um monte de restrições nas mudanças na legislação eleitoral a cada eleição. Nesta não foi diferente. A lei nunca foi mudada pra atender aos cidadãos. Mudou-se pra atender aos políticos. De mudança em mudança, em 1997 permitiu-se coligações entre partidos e construíram-se blocos de poder. Com o tempo esses blocos viraram cartéis de partidos e de interesses centrados na construção de projetos de poder.
Os partidos morreram como mentores filosóficos da democracia, e no lugar surgiram os donos dos partidos com interesses exclusivos de poder. Rapidamente construiu-se uma linguagem de poder baseada na divisão dos escalões da máquina pública municipal, estadual e federal. Junto, a arrecadação de dinheiro público pra financiar os cartéis. Depois evoluiu pra arrecadação dos donos dos partidos que a distribuem em conta gotas entre os seus pares e constroem suas militâncias individuais. De repente, a rede de eleitos pra o fim de representar os cidadãos, virou uma pequena rede formada pelos cartéis. Pior, usando o nome da sociedade. Maquiavelismo da pior qualidade.
Esses últimos 13 anos pós-doutoraram o sistema e apodreceram a política de representação dos cidadãos. Feriram de morte a política e os mandatos. Por isso a eleição municipal de 2016 vem num momento em que a política e os políticos estão na UTI. A UTI é administrada por um sistema de saúde construído pra não curar quem se interna!
O tempo que o Brasil tem pra sair da crise, construir um mínimo de respeitabilidade e montar regras eleitorais pra as eleições gerais de 2018 é de menos de dois anos. Antevê-se que a eleição de 2018 será um caos. O país quebrado, as instituições públicas desvirtuadas ou desconstruídas, as gestões públicas asfixiadas, os políticos envergonhados. Mas, talvez o termômetro venha de fora. O mundo olha pro Brasil como um ótimo lugar pra investir. Mas exige garantias jurídicas. Talvez seja essa pressão mundial, somada com as aspirações e indignação populares nacionais, o remédio do renascimento de uma nação que possa num prazo razoável construir um projeto de nação, imune à política e aos políticos com a cara de hoje!
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso. E-mail:onofreribeiro@onofreribeiro.com.br ww.onofreribeiro.com.br