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Domingo - 15 de Janeiro de 2017 às 21:37

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Vivaldo Lopes, economista, é consultor econômico
Vivaldo Lopes, economista, é consultor econômico

Esta é a pergunta que mais ouvi nos meses finais de 2016 em encontros coloquiais com clientes, com amigos, palestras, reuniões empresariais ou acadêmicas.

Certamente a economia de Mato Grosso crescerá em 2017. Com menos intensidade que a sua média histórica recente e bem mais que o conjunto da economia do país. Elenco a seguir os argumentos que sustentam esse cenário de moderado otimismo com a performance da economia de Mato Grosso neste ano que se inicia.

Mato Grosso colherá em 2017 a sua maior safra agrícola de todos os tempos. A safra de grãos vai ser superior a 53 milhões de toneladas. O rendimento físico das lavouras será um dos maiores da história da produção agrícola do estado, elevando, por sua vez, a produtividade agrícola que já é uma das maiores do país. O clima está favorecendo, sem as diatribes do El Ninho que tanto aprontou na safra anterior. A safra nacional também será recorde, superando os 213 milhões de toneladas.

A despeito de possível volatilidade nos preços internacionais das commodities agropecuárias, os especialistas não vislumbram queda brusca dos preços e nem no consumo no mercado mundial. A cotação do dólar frente ao real favorecerá as exportações e a formação de preços. Os estoques mundiais estão elevados, mas o consumo da China voltou a sinalizar crescimento no final de 2016. Com forte participação na formação do PIB estadual, o bom desempenho do agronegócio atuará novamente como propulsor do crescimento da atividade econômica do estado ao longo de 2017, pois sua cadeia produtiva completa envolve trinta e duas atividades econômicas diferentes.

Atuarão como vetores inibidores do crescimento a elevada taxa de desemprego em Mato Grosso ( 8,95%), e a baixa capacidade dos governos estadual e federal em promover investimentos na infraestrutura de transportes, logística, construção civil e habitação. O retorno da confiança empresarial e aumento de investimentos privados devem ajudar a mitigar os efeitos do reduzido investimento público.

No cenário nacional, as consultorias sinalizam que teremos um ano ainda de desempenho pífio da atividade econômica. Os macroeconomistas da FGV estimam que o PIB do Brasil crescerá apenas 0,5% em 2017. Analistas de grandes bancos e as consultorias independentes mais otimistas indicam crescimento da economia variando de 0,6% a 1%, já levando em conta o ritmo lento com que o presidente Michel Temer está conseguindo aprovar medidas estruturais no Congresso Nacional. Mesmo contando com ampla maioria dos deputados e senadores em sua base de apoio. A queda da inflação e a redução da taxa Selic sinalizadas para 2017 indicam maior disponibilidade de crédito para as empresas, consumo das famílias e cauteloso retorno de investimentos. A elevada taxa de desemprego atua como for&ccedil ;a inibidora dos gastos das famílias e das empresas.

A variável política imponderável são os possíveis efeitos catastróficos que a delação do juízo final, dos 77 executivos da Odebrecht, poderá causar no cenário político nacional, paralisando o funcionamento do executivo federal, de alguns estados e do congresso nacional e, por conseguinte, atrasando a aprovação das medidas necessárias para a o equilíbrio fiscal da União e dos estados.

Internacionalmente, as incertezas se apresentam sob a forma de possível elevação dos juros dos Estados Unidos e a imprevisível administração do novo presidente americano Donald Trump. A elevação dos juros pode levar os fundos que investem seus volumosos recursos em commodities agrícolas, a migrarem para outras aplicações mais atrativas do mercado financeiro de Wall Street, derrubando os preços dessas commodities agrícolas. Esses fundos de investimentos atualmente mantêm em suas carteiras o equivalente a 10% de toda a safra mundial de grãos. O tsunâmico e imprevisivel Trump pode colocar em prática políticas protecionistas no comércio internacional que afetarão todas as transações comerciais do Brasil com o mercado americano e suas correlaç&ot ilde;es. Em contrapartida, essa duas medidas poderão elevar a cotação do dólar frente ao real, beneficiando as exportações de produtos agropecuários que continuarão destinando suas vendas para os mercados asiáticos, especialmente China e Índia.

Em suma, 2017 não será o sonhado ano da retomada do crescimento chinês da economia de Mato Grosso, mas será bem melhor que os depressivos 2015 e 2016, caracterizando-se com um ano da transição para 2018. Este sim, poderá se transformar no ano da retomada do ritmo de “Tigre Asiático-Pantaneiro” que caracterizou Mato Grosso nas últimas décadas.

Vivaldo Lopes, economista, é consultor econômico ( vivaldo@uol.com.br )



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