Nova política e o Reflexo nas Eleições
Estamos no século XXI, um século de convergências midiáticas, onde os laços sociais transpassam as fronteiras físicas e invadem a dimensão virtual. É nesse cenário de espaço tempo que vem se desenvolvendo a dissociação do poder e a política. De forma superficial, vamos definir o conceito de poder como sendo a força de agir efetivamente e política como a capacidade de decidir á direção e o objetivo de uma ação.
Da mesma forma que no século XVIII os conceitos medievais foram sobrepostos pelos princípios de "liberté, égalité, fraternité", alicerçados por essas promessas de liberdade, igualdade e fraternidade que se construíram as democracias na modernidade. Ocorre que essas promessas não se cumpriram, e no século XX, emergem os conceitos Marxistas e o mundo ficou dividido entre Capitalistas e Socialistas. Na atualidade, vemos o colapso das promessas da modernidade, onde os conceitos de estabilidade, solidez, igualdade estão cada dia mais fragmentados e fluidos.
Com as eleições presidenciais de 2014, ganhou mídia o termo “Nova Política”. Em vários momentos, a mídia jornalística indagou o que é nova política? Um emaranhado de palavras foi verbalizado, mais como o foco central era o eleitoral e não o político, o saldo foi mais dúvidas que certezas.
O tema é complexo e o espaço é curto para dar uma resposta determinista. Assim, busquei com refletir com o sociólogo polonês Zygmunt Bauman e de nosso diálogo trago algumas considerações. Nossa atual sociedade está cada vez mais se comportando como uma matriz de conexões e desconexões aleatórias e em uma proporção infinita de possibilidades. Um exemplo são as relações afetivas. No século passado, os casais tinham relações de médio e longo prazo e os namoros eram medidos em meses e até anos. Hoje são medidos em dias, horas ou até minutos.
Esses relacionamentos estavam circunscritos ao espaço territorial e temporal, agora o virtual rompe todas as fronteiras e até o sexo já se conectou à dimensão cibernética. É desse território onde as orientações “verticais” estão sendo substituídas por relações “laterais” é que emerge a etimologia “nova política”.
Como já afirmamos, esse fenômeno vem divorciando o poder da política, mas não se trata de um fenômeno nacional ou local, mas sim, de um fenômeno global. A figura do Estado Nacional, constitutivo da democracia moderna e suas instituições políticas, assiste a transformação dos poderes, antes centrados no Estado e hoje cada vez mais se mostrando incontrolável pelo Estado. Essa percepção empurra o sujeito á profunda incerteza, uma vez que a falta de poder institucional, desloca as instituições para um campo de irrelevância frente ao indivíduo. Isto se explica pelo fato dessas instituições políticas não conseguirem apaziguar as demandas existenciais apresentadas pelos cidadãos. Consequentemente, acaba por atrair cada vez menos á atenção deste individuo.
Esse fenômeno torna-se perceptível no momento eleitoral quando o Tribunal Superior Eleitoral mostra um universo de abstenção na ordem de 20% do eleitorado nacional, o que representa 1 em cada 5 eleitores. Em um país como o Brasil que tem o voto obrigatório e penalidades para quem deixa de comparecer ás urnas, torna-se um fator preocupante. Soma-se ainda o universo de aproximadamente 10% de votos Brancos e Nulos que em uma leitura ainda que superficial, significa uma reprovação ao sistema representativo.
Então “nova política” é um “campo político e social” em construção. Expressa a preocupação em compreender o cenário social do terceiro milênio e a necessidade de estabelecer um diálogo e mediação com os desafios impostos pelos paradigmas do século XXI.
Renato Santana é Historiador e Mestre em Educação. e-mail: orenatus@gmail.com