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Sábado - 20 de Maio de 2017 às 18:36

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Elias Januário é educador, antropólogo e historiador e escreve às sextas-feiras em A Gazeta.
Elias Januário é educador, antropólogo e historiador e escreve às sextas-feiras em A Gazeta.

Nas comunidades tradicionais, em particular entre os povos indígenas, o núcleo familiar tem uma importância vital na manutenção dos saberes e na transmissão dos conhecimentos de uma geração para outra. São os integrantes do núcleo familiar os encarregados de ensinar as práticas culturais que fazem parte do cotidiano do povo. Por exemplo, o pai fica encarregado de preparar todos os instrumentos de uso masculino que o filho irá usar na medida em que for ficando adulto e de ensiná-lo todas as obrigações e deveres de um homem, como ser um bom caçador, um bom pescador, um homem trabalhador e um pai sempre presente na vida dos filhos. Já a mãe fica encarregada de preparar os itens de uso feminino que a filha irá usar e de ensiná-la todas as obrigações e deveres de uma mulher como esposa, mãe e dona de casa. Assim ambos são responsáveis por todos os processos de instrução dos filhos.

Os conhecimentos de cada etnia são em sua maioria passados através da oralidade, para depois serem colocados em prática, ou seja, são vivenciados. As crianças e adolescentes aprendem observando e fazendo espontaneamente sem um tempo ou horário pré-estabelecido para aprender, fazendo com que as constantes interações entre todas as pessoas possibilitem a socialização dos conhecimentos tradicionais do grupo. Os mais velhos representam a base de toda estrutura familiar ou do núcleo familiar, visto que as pessoas que se casam vão morar na casa da esposa ou do marido, dependendo organização social de cada etnia, com a principal finalidade de contribuir na produção de alimentos na roça.

Dentro do núcleo familiar compete ainda aos mais velhos, na maioria das vezes, ensinar sobre temas como os "marcadores de tempo" ou seja, o tempo da águas, o tempo das queimadas, o tempo de preparo da roça, o tempo da pesca com o timbó, o tempo certo de tirar a madeiras para fazer suas casas, de coletar matéria prima para confeccionar itens da cultura material (colares, cerâmicas, plumárias, entre outras), além do tempo certo de retirar do meio ambiente local as plantas usadas na produção de medicamentos naturais, fundamentais nos rituais de iniciação e cura entre os povos indígenas.

Os saberes no contexto do núcleo familiar não são apenas ensinados, eles continuam sendo principalmente vivenciados, esta é a grande diferença quando falamos de educação indígena, pois na educação escolar tradicional as crianças tomam conhecimento dos conteúdos a serem aprendidos em livros prontos e acabados, sendo que o professor é que ministra os conteúdos conforme seu planejamento e o projeto político pedagógico da escola. Na educação indígena as crianças e jovens aprendem junto com os mais velhos os conhecimentos fundamentais para toda sua vida.

Elias Januário é educador, antropólogo e historiador e escreve às sextas-feiras em A Gazeta. E-mail: eliasjanuario@terra.com.br.



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