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Sábado - 04 de Outubro de 2014 às 07:54
Por: Alexandre Garcia

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O pseudo-sequestrador tocantinense que agiu no Hotel St.Peter, em Brasília só queria ser ouvido no seu protesto contra a corrupção e contra o descaso do governo, como disse no dia seguinte. E conclamou que o gigante adormecido acordasse. Mas o que está adoemecido são os valores morais. Outro tocantinense, candidato a deputado estadual, marinheiro de primeira viagem, está descobrindo que não existem apenas políticos corruptos, mas eleitores também corruptos. Quando aborda alguém para explicar o que pretende fazer como representante na Assembléia, às vezes percebe que o eleitor não quer saber e vai direto ao ponto: “Minha moto está presa no Detran; se você tirar ela, meu voto é seu”. Ou: “Minha casa está precisando de um telhado novo, você me dá?”.

A explicação já foi dada pela socióloga Maria Lúcia Victor Barbosa: o eleitor semi-analfabeto,  com renda de metade do salário-mínimo, totalmente desimportante para os outros, descobre que num determinado dia, o dia da eleição, ele vai finalmente valer tanto quanto qualquer milionário: um voto - um importante e valioso voto. Então, ao descobrir que naquele momento fugaz tem algo  valioso, vende o voto. Troca pelo telhado novo, ou por tijolos para aumentar a casa. E a conduta explicável e fisiológica, vai ajudar a eleger o candidato que comprou o voto.

Entre os políticos o fisiologismo também impera. Aqui na capital, um ex-senador, dono de uma rede de farmácia e apoiador de Arruda, ao ver Arruda ser barrado pela Justiça,  se tornou socialista - um salto para o outro extremo ideológico. Dirigentes partidários não conhecem a doutrina de seus partidos, porque isso só está escrito no estatuto partidário, praticamente copiado de um modelo. São todos parecidos na teoria do tudo pelo social. Na prática, se parecem pelo fisiologismo. Os candidatos do partido nem conhecem bem seus dirigentes, que dirá a teoria doutrinária da agremiação e muitos candidatos de um partido, por conveniência, vão votar em governador, senador ou presidente de outro partido.

Numa confusão dessas, o que esperar da democracia no Brasil? Alguém será eleito presidente, governador, senador, deputado, e depois vai agir de acordo com os interesses que levaram à sua eleição, só por acaso coincidentes com as intenções do eleitor ou com o que foi apregoado na propaganda. O eleitor que aposta no processo democrático é maioria, mas depois se frustra porque nada aconteceu como esperava com o seu candidato vitorioso. A reação possível ao enfraquecimento da representatividade tem que partir do eleitor bem-intencionado, na hora do voto. E a poucos dias da eleição, é hora de pensar sobre a história de cada concorrente, antes de tomar a difícil decisão de escolher um número na urna eletrônica.

Alexandre Garcia é jornalista em Brasília 



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