Lourembergue Alves
Nadinha de nada
Inexiste jogo democrático sem partidos políticos e sem o posicionar-se por parte das pessoas, independentemente de suas crenças, contas bancárias, cor ou bandeiras. É, por esta razão, que as grandes siglas partidárias deveriam ser as primeiras a saírem em defesa das ideias transformadoras e revolucionárias. Isto tem ocorrido esporadicamente e em períodos diferentes em boa parte do mundo, com as agremiações partidárias instigando um ou outro segmento da sociedade, até para melhorarem seus próprios discursos e suas fundamentações. No Brasil, contudo, as chamadas maiores siglas não encabeçam nenhum grande tema, e os partidos médios esperam que aquelas o façam por elas, enquanto os de denominações nanicas se contentam em esperar, e permanecem assim durante todo o tempo.
Esperam que as supostas mudanças na legislação eleitoral não os atinjam de morte, em especial por meio da cláusula de barreira. Cláusula de desempenho defendida pelo PSDB. Os tucanos também advogam o voto distrital misto. Este, no entender do presidente interino da legenda, senador Tasso Jereissati, seria a ponte para se chegar ao Parlamentarismo. Parlamentarismo, segundo muitos dizem, é o instrumento para combater o caixa 2 e a corrupção.
Isto, amigo (e) leitor, é retórica. Tão somente retórica sem qualquer substância, à moda gorgiana. O Parlamentarismo não é solução, nem o remédio adequado para se combater à crise política brasileira. Crise que não é de hoje. Vem, em uma linha constante, desde o primeiro mandato da presidente Dilma. Crise que igualmente se fez presente nos governos Collor de Mello, Itamar Franco, Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso. Mas ela era de curta duração. Diferentemente de agora, pois se estende já há bastante tempo, com prejuízos imensuráveis.
Por outro lado, os tucanos continuam sem qualquer projeto para o país. E, neste particular, cabe realçar, os tucanos se igualam aos petistas e aos peemedebistas. PT e PMDB que estão juntos do PCdoB, PSD, PSB, DEM, PSOL, PDT, PR, PP e todos os outros. Pois nada carregam em suas bagagens. Não possuem nenhum projeto ou programa que ponha fim a crise econômica, ou possa diminuir o peso das consequências geradas pelas crises moral, social, ética e política. O que é altamente desanimador, para não dizer outra coisa. Desânimo que agrava o estado de coisa que se vive, com seríssimos desdobramentos e trágica dor de cabeça para os brasileiros, em especial aqueles que se encontram na base da pirâmide social, embora nem tanto para os grupos que se encastelaram nos poderes, muito menos para quem se valem (empresários, por exemplo) do Estado como a vaca leiteira, cujas tetas não querem se soltar jamais, independentemente dos resultados da Operação Lava-jato.
Nada se vê, aliás, no Congresso Nacional; nada se tem nas Assembleias Legislativas, nadinha de nada se tem nas Câmaras Municipais. Exceto, claro, interesses particulares, individuais e de grupos políticos e econômicos. Deste jeito, o país continuará na mesma, e vítima das crises, com resultados catastróficos para a sua população, especialmente sua parcela que mais necessita do Estado. É isto.
Lourembergue Alves é professor e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço aos domingos. E-mail: lou.alves@uol.com.br.