Presidente sugeriu ao Congresso consulta popular sobre reforma política. Para ela, protestos no país são diferentes porque buscam "mais direitos".
Dilma diz acreditar na "inteligência do povo" para responder em plebiscito
A presidente Dilma Rousseff disse nesta quinta-feira (4), em Salvador, acreditar na "inteligência, sagacidade e esperteza do povo brasileiro" para responder às perguntas de um plebiscito sobre reforma política. No último dia 24, ela sugeriu ao Congresso uma consulta popular para a elaboração de legislação para renovar os sistemas político e eleitoral.
Mais cedo, o vice-presidente da República anunciou que o governo chegou à conclusão de que não há tempo para que a reforma política seja concluída para vigorar na eleição de 2014. Segundo ele, os partidos aliados concordam com o plebiscito sobre os temas da reforma, mas avaliam que somente será possível aplicar uma nova legislação na eleição de 2016. Na última segunda (1), Dilma afirmou que "gostaria" de ver a reforma política aprovada a tempo para a eleição do ano que vem. O ministro Gilberto Carvalho disse que, se a reforma sair depois de 2014, "será mais que uma decepção".
"Eu acredito muito na inteligência, na sagacidade, na esperteza do povo brasileiro. Acho que o povo brasileiro sempre mostrou ao longo de toda a nossa história que suas escolhas sempre foram acertadas. Eu não sou daqueles que acredita que o povo é incapaz de entender porque as perguntas são complicadas. Não é verdade", declarou a presidente em discurso na cerimônia de lançamento do Plano Safra Semiárido e na entrega de máquinas do programa PAC 2 para 269 municípios baianos.
Para Dilma, "o povo brasileiro tem aquela inteligência que nos foi dada porque graças a Deus somos feitos de várias correntes e de vários veios".
Manifestações
Ela também comparou os protestos de rua do mês passado com movimentos em outros países, como a Primavera Árabe, contra governos ditatoriais, e manifestações na Espanha e nos Estados Unidos contra a crise econômica internacional. Segundo ela, a diferença é que no Brasil as pessoas lutam "por mais direitos".
"No Brasil, é diferente. Aqui, as ruas falaram por mais direitos. E aqui, eu quero dizer para vocês que esta presidenta aqui ouviu claramente as vozes das ruas, tanto porque essa voz é legitima, tanto porque temos uma democracia e faz parte da democracia a luta por mais direitos, principalmente quando sabemos que nos últimos dez anos, com o governo do presidente Lula e com o meu governo, nós olhamos para aquilo que é a coisa mais importante num compromisso político: aqueles que mais precisam, aqueles que menos têm", afirmou.
Dilma citou ainda protestos na Espanha, que chamou de "Espanha dos indignados", e nos Estados Unidos, a "ocupação de Wall Street", ambos contra medidas tomadas em razão da crise. Ela destacou que nesses lugares o movimento era contra a perda de direitos.
"Também no nosso país não há divisões religiosas ou étnicas que levam as pessoas à rua. Muito menos há o que ocorre hoje em países da Europa ou até nos Estados Unidos, o movimento na Espanha, dos indignados, e a chamada Ocupação de Wall Street, que diz respeito no caso da Europa a perdas de direitos, perdas de emprego, perdas de salário, perdas de aposentadoria e redução real de salários", declarou.
Pactos
Dilma se referiu aos pactos nacionais que propôs a governadores e prefeitos e destacou o que chamou de “reforma urbana”, que inclui modernização do transporte coletivo de massa e construção de metrôs e VLTs. “[A reforma urbana] passa por um investimento pesado numa infraestrutura que ficou parada mais de 30 anos”, disse.
Ela falou ainda sobre a questão dos médicos, alvo de polêmica desde que o governo anunciou a intenção de trazer médicos estrangeiros para atuar exclusivamente no Sistema Único de Saúde (SUS) em periferias de grandes cidades e no interior do país.
A presidente disse ter escutando “bastante” pessoas ligadas à área. “Dentro das nossas possibilidades, vamos respondê-las”, afirmou.
“No caso dos médicos, nosso programa de mais médicos implica que o governo federal assuma o pagamento de salário, da alimentação e da residência do médico quando ele for transferido para a região”, declarou.
A presidente agradeceu ao Congresso Nacional a aprovação de parte dos royalties do petróleo para a educação. Nesta semana, o Senado aprovou um projeto que determina que 75% desses recursos serão destinados à educação e 25% à saúde. Agora, o projeto retornará para apreciação da Câmara. A intenção inicial do governo era destinar 100% para a educação.
“Tem que gastar dinheiro com a educação. Não há milagre. Daí essa proposta dos royalties que nós viemos lutando e agradecemos porque foi aprovada no Congresso”, disse.