Grupo era formado por Demóstenes, Randolfe Rodrigues e Pedro Taques. "O Demóstenes que nós conhecíamos não existe mais", afirmou Rodrigues.
Caso Cachoeira desmonta "os três mosqueteiros" do Senado
O grupo de parlamentares que se autointitulava "os três mosqueteiros" e que assim também era classificado por colegas do Senado agora está desfalcado. Desde o começo de março, quando surgiram as primeiras denúncias envolvendo o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), os outros dois integrantes do grupo não escondem a decepção.
Além de colegas, Pedro Taques (PDT-MT) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) eram amigos próximos de Demóstenes Torres. O trio atuava afinado, em pronunciamentos enfáticos, da tribuna do Senado, em defesa da ética e da moralidade na política.
Mas depois que gravações da Polícia Federal apontaram envolvimento de Demóstenes com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, preso por suspeito de chefiar uma quadrilha de jogo ilegal, o senador goiano se tornou alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), teve de pedir desfiliação do DEM e poderá responder a processo no Conselho de Ética do Senado.
"O Demóstenes que nós conhecemos e confiávamos não é o Demóstenes que está nas manchetes dos jornais. O Demóstenes que nós conhecíamos não existe mais", disse o senador Randolfe Rodrigues.
A relação de proximidade entre os três senadores teve início com os trabalhos legislativos, logo no começo de 2011. Randolfe, então recém-chegado à Casa, colocou seu nome para disputar a presidência do Senado contra José Sarney (PMDB-AP). Ganhou o apoio de Taques, que trouxe junto Demóstenes. Começava a partir daí a relação de afinidade entre os três.
"Tinha um ponto em comum que nos unia, que era a defesa dos princípios éticos e a luta contra a corrupção. Nos unimos em torno de um ideal", recordou Pedro Taques.
Perdida a eleição para Sarney, os três conseguiram ocupar as vagas de titulares na Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante do Senado. O apelido "os três mosqueteiros" nasceu ali, uma vez que os três costumavam sentar na primeira fila e protagonizar, em sintonia, debates acalorados nas reuniões.
"Nós sempre nos ligávamos, conversávamos sobre os projetos e tudo o que acontecia na Casa. Sempre um avisava o outro", afirmou Randolfe Rodrigues.
O costume de telefonarem um ao outro sempre que algo acontecia no Senado foi seguido quando começaram a surgir as denúncias envolvendo Demóstenes.
Ex-procurador da República, Taques admite que as denúncias não o assustaram. "Eu não fiquei assustado, mas sim surpreso. Já vi tanta coisa errada nesta vida. Mas, vindo do Demóstenes, é claro que fiquei surpreso", diz.
Foi ele quem telefonou para Randolfe, na manhã do sábado, 3 de março, para conversar sobre o suposto envolvimento de Demóstenes com Cachoeira.
Na conversa, Taques e Randolfe decidiram que era a hora de procurar Demóstenes. Ligaram para o senador e marcaram uma conversa. Na manhã da segunda-feira, dia 5, Taques e Randolfe foram até o apartamento de Demóstenes, na Asa Sul de Brasília.
"Naquele dia, ele nos garantiu que não haveria mais denúncias, que não tinha negócios com o Cachoeira. Foi ali que decidimos que ele deveria se manifestar no plenário para explicar o que estava acontecendo", disse Randolfe Rodrigues.
O pedido dos amigos foi atendido. Na tarde do dia 6 de março, Demóstenes ocupou a tribuna do Senado para prestar explicações sobre as denúncias. Durante o discurso, Demóstenes negou que tivesse negócios com Carlinhos Cachoeira e ainda fez uma exigência - ser investigado no Supremo Tribunal Federal.
Poucos dias depois, a denúncia de que Demóstenes teria recebido um rádio habilitado por Cachoeira nos Estados Unidos, pelo qual os dois se comunicavam, levou Taques e Randolfe ao gabinete do senador. Segundo os parlamentares, Demóstenes não deu explicações.
"Ele não conseguiu dar explicação alguma. Tentamos conversar com ele e não tivemos resposta. Então, deixamos claro que precisaríamos tomar providências", afirmou Randolfe.
No dia 20 de março, PSOL e PDT, partidos de Randolfe e Taques, respectivamente, junto com outras legendas, encaminharam ofício ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), pedindo que fossem solicitadas informações à Procuradoria-Geral da República sobre as investigações.
No dia 28 de março, o PSOL protocolou um requerimento que pede abertura de processo no Conselho de Ética do Senado para verificar se houve quebra de decoro parlamentar por parte de Demóstenes, até então líder do DEM no Senado.
"Tínhamos de cumprir com o nosso dever e a nossa postura. Creio que, se fosse ele [Demóstenes] na nossa posição, faria o mesmo", diz Randolfe sobre o requerimento.
A última vez em que Randolfe e Taques conversaram com Demóstenes foi no dia 20 de março, o mais recente registro de presença feito por Demóstenes no plenário do Senado.
Desde então, o senador não comparece às sessões plenárias. Taques promete não desistir até que estejam concluídas todas as investigações que envolvem Demóstenes.
"Não podemos proteger os amigos e prejudicar os inimigos. Todos têm de ser tratados da mesma forma", afirma.
Sobre a relação entre o trio, Randolfe afirma que a retomada dos "três mosqueteiros" é impossível. Mas afirma que não se sente envergonhado pela amizade que manteve com Demóstenes antes das denúncias.
"É um passado que não nos condena, nos orgulha. Até porque a história do Demóstenes colaborava para isso. Mas era outro Demóstenes que conhecíamos", disse.
Taques, da mesma forma, diz ter dois sentimentos. "O primeiro é de tristeza porque ele [Demóstenes] tombou diante do crime. O segundo é de felicidade porque as instituições estão funcionando", declara.