O esquema movimentou em torno de R$ 9 milhões em transações com as guias ideologicamente falsas, o Ibama embargou a empresa, e multou seu responsável legal em R$ 8 milhões por vender madeira nativa...
Ibama de Sinop descobre esquema que "esquentava" madeira de desmate
Uma única madeireira, com endereço fictício, em uma sala comercial em Sinop, utilizou Guias Florestais fraudadas para legalizar mais de 29,8 mil metros cúbicos de madeira de desmatamento ou extraída irregularmente de florestas em diversos municípios no Nortão, como Feliz Natal, Cláudia, Alta Floresta, Marcelândia, Vera e Cotriguaçu. Esse volume equivale a cerca de 1,2 mil caminhões cheios.
Depois de desvendar o esquema, que pode ter movimentado em torno de R$ 9 milhões em transações com as guias ideologicamente falsas, o Ibama embargou a empresa, ontem, e multou seu responsável legal em R$ 8 milhões por vender madeira nativa com documentação fraudada e em R$ 300 mil por inserir dados falsos nos sistemas de controle ambiental do país.
Há 15 meses a madeireira de Sinop "esquentava" os produtos florestais ilegais, desde dezembro de 2010 até a semana passada, quando foi descoberta e teve seu acesso ao Sisflora (o sistema estadual que controla o comércio de produtos florestais no Mato Grosso) bloqueado pelos agentes do Ibama na operação Verdes Veredas. Segundo estimativas do instituto, a fraude foi responsável pelo dano ou destruição de aproximadamente três mil hectares de florestas nativas no Mato Grosso. "Ninguém explora madeira e destrói florestas se não pode vender o produto. Sem esses documentos fraudados acobertando o negócio escuso muitas florestas ainda estariam integras", afirma o chefe da Divisão de Fiscalização do Ibama em Sinop, Werikson Trigueiro.
Rota fantástica
O Ibama auditava transações no Sisflora ao suspeitar da movimentação de Guias Florestais emitidas a partir da conta da madeireira de Sinop. A empresa fazia a chamada "venda inversa", ou seja, supostamente enviava grandes volumes de toras para empresas localizadas nos maiores polos madeireiros do norte mato-grossense, o que não faz sentido. Em uma das transações, teria vendido 40 toras de angelim-pedra para uma serraria em Cotriguaçu, município rico em madeira no noroeste do Estado. Na verdade, a empresa negociava apenas o papel que acobertava a madeira extraída irregularmente nas florestas da região dos seus clientes.
"Quando o negócio é real e legal, as toras saem de onde há florestas, com planos de manejo sustentáveis autorizados, para um lugar onde florestas são escassas. Não se justifica a venda no sentido inverso. De Sinop para Cotriguaçu, por exemplo, é economicamente inviável, pois há cerca de 570 km de distância a ser percorrido entre as cidades e por estradas em péssimas condições", explica Werikson, acrescentando que vai requerer à Secretaria do Meio Ambiente do Mato Grosso o estorno do Sisflora de todos os créditos de madeira negociados pela empresa fantasma.
Verdes Veredas
Desde o início do ano, o Ibama combate com a operação Verdes Veredas o desmatamento ilegal da Amazônia no norte do Mato Grosso. A região fica na fronteira agrícola do estado e lidera os índices de desflorestamento do bioma. O instituto já aplicou cerca de R$ 52 milhões em multas, embargou 19 propriedades que, juntas, somam três mil hectares de áreas ilegalmente desmatadas e apreendeu 30 tratores, sete caminhões, um carro de passeio e seis motosserras.