POÇO DE CARBONO JURUENA: Agricultores conhecem sistemas agroflorestais de Juína
Cerca de 50 agricultores que participam do projeto Poço de Carbono Juruena, executado pela Associação de Desenvolvimento Rural de Juruena (ADERJUR) e patrocinado pelo Programa Petrobras Ambiental, visitaram duas propriedades rurais em Juína, que se destacam na região pela qualidade da produção através de sistemas agroflorestais. Nessa visita, ocorrida no dia 30 de janeiro, foram mostradas técnicas de como é possível produzir muito em uma área relativamente pequena, evitando o uso de agrotóxicos e apostando na diversidade da produção.
Os agricultores do projeto Poço de Carbono Juruena foram divididos em dois grupos, acompanhados por técnicos do projeto, que conheceram alternadamente a propriedade do Sr. Rubi Krindges, que produz principalmente café conillon e guaraná, e a propriedade do Sr. Dirceu Dezan, que abastece supermercados e feiras da região com chuchu, coco, laranja e diversas outras espécies.
“Uma das questões mais importantes que mostramos aos agricultores é o cuidado que estes dois proprietários têm com o solo. Mantendo-o rico, eles produzem o ano inteiro em uma área de cinco hectares ou menos”, aponta Paulo Nunes, coordenador técnico no projeto. “A idéia desta visita e de outras que já aconteceram no ano passado em Aripuanã e Cotriguaçu, por exemplo, é mostrar técnicas de sistemas agroflorestais e mais do que isso, mostrar que dá resultados para o meio ambiente e gera uma boa renda”, explica.
Rubi é conhecido em toda a região pela qualidade do guaraná e do café e já recebeu prêmios por isso. Em uma área de cinco hectares cultiva esses grãos, produz mel entre outros produtos agrícolas, e somente com o trabalho familiar ele já construiu casa, comprou carro novo e moto para o filho, e este ano, apenas com o café que tem estocado, aguardando preço melhor para a venda, pretende comprar um trator.
Um dos segredos de Rubi é o cuidado com o solo, que nunca fica descoberto. Para isso, ele planta feijão guandu e feijão-de-porco, plantas leguminosas que também servem para fazer sombra parcial para o café, para repor nutrientes e manter a umidade do solo. Ele desenvolveu uma técnica de clonagem, que foi explicada detalhadamente para os agricultores do projeto Poço de Carbono Juruena, a partir de seus melhores pés. O resultado é uma produção média de dois latões por pé de café.
“Hoje em dia eu não preciso buscar novos clientes, eles vem até aqui na minha propriedade, pois a qualidade dos meus produtos é reconhecida”, comenta Rubi Krindges. “Outra coisa que não faço é pegar empréstimos para financiar minha produção. Consegui uma autonomia que me permite estocar o café a espera de um momento melhor para a venda”, comemora.
O guaraná do Rubi também é orgulho do produtor. Ele vende o excedente em média a 53 reais o quilo, mas boa parte da sua produção é vendida em pó a mercados, associações e cooperativas da região. “Até mesmo atacadistas de Cuiabá vem a Juína comprar meu produto”, revela.
Diversidade fortalece economia do município
Paulo Nunes, coordenador técnico do projeto, explica que esses e outros agricultores se destacam porque buscam o conhecimento técnico e estão sempre inovando e diversificando a produção. “O Rubi mesmo plantou guaraná e castanha-do-Brasil em parte de sua reserva legal, pois ele sabe que a lei permite o manejo da reserva legal. Além de recuperar e manter a biodiversidade da área, é possível ganhar dinheiro com isso”, explica.
Para Juarez Cividini, diretor-presidente do Sicredi Univales, cooperativa de crédito que abrange os vales do Juruena, Arinos e Aripuanã e dois municípios de Rondônia, também acredita no potencial econômico para a região, com a diversificação de produtos. “Nossa região é propícia para o café, guaraná, pupunha, pimenta-do-reino, cacau, que são lavouras permanentes e que dão sustentabilidade para o pequeno produtor e principalmente aqueles que dependem de mão-de-obra familiar”, avalia.
“Projetos sustentáveis são um anseio nosso. Na região ainda tem muito extrativismo de madeira e a gente sabe que isso não vai durar muitos anos. É muito melhor que os agricultores se organizem por meio de uma associação ou uma cooperativa, produzindo um pouco de cada cultura”, avalia. “O Sr Rubi é um exemplo de alguém que começou como um arrendatário de um hectare e hoje tem 35 alqueires de terras na região. Esse é o caminho a ser trilhado”, finaliza.