Culpados devem ser "drasticamente" punidos, diz Dilma sobre denúncias
A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, disse neste sábado (19), em Campinas, que nunca abrigou ou tomou conhecimento da ocorrência de atos ilegais na Casa Civil no período em que ocupou a pasta. Reportagem da revista “Veja” deste final de semana afirma que houve pagamento de propina em licitação para a compra do remédio Tamiflu – usada no tratamento da gripe H1N1 – e a liberação de uma concessão ao marido da ex-ministra Erenice Guerra para operar no mercado de telefonia celular em São Paulo.
Segundo a revista, funcionários da Casa Civil teriam recebido pacotes de dinheiro, contendo R$ 200 mil, supostamente pela intermediação de um contrato de R$ 34,7 milhões para a compra emergencial do medicamento. A concessão ao marido de Erenice teria saído por influência da ex-ministra.
Entenda o caso da suspeita de tráfico de influência na Casa Civil
"Eu não tive acesso ainda a essa reportagem, mas eu tenho uma posição muito clara quanto a isso. Todas as denúncias têm de ser rigorosamente apuradas e investigadas. Acredito que as pessoas culpadas têm de ser drasticamente punidas", afirmou Dilma. "Eu tenho um histórico de vida pública, jamais permiti, jamais abriguei práticas ilegais nas minhas proximidades. Não faria isso também na minha campanha."
A revista afirma que, em 2005, a empresa Unicel, dirigida pelo marido de Erenice, o engenheiro elétrico José Roberto Camargo Campos, teria conseguido concessão da Agência Nacional de Telefonia (Anatel) para operar telefonia celular em São Paulo.
A decisão de incluir a empresa no mercado, segundo a reportagem, teria sido tomada pelo presidente da Anatel, Elifas Gurgel, e contestada por técnicos da agência por suposta falta de capacidade técnica da empresa de Campos para atuar no mercado.
A revista acusa Erenice de ter feito pressão para que os técnicos modificassem os pareceres e aprovassem a empresa do marido e de ter usado de influência para reduzir de 10% para 1% a taxa de entrada cobrada nos contratos de concessão. Ainda de acordo com a revista, o negócio teria como alvo o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL).
Erenice e filhos
A reportagem relata a existência de um suposto “balcão de negócios” na Casa Civil e de contratos feitos sem licitação envolvendo parentes da ministra. Segundo a revista, o filho de Erenice, Israel Guerra, teria cobrado R$ 40 mil de propina do corredor de motocross Flávio Corsini, de Brasília, em troca da liberação de patrocínio de R$ 200 mil com uma estatal.
“Não tinha nenhum filho da Erenice na Casa Civil, o que tinha eram amigos. Se esses amigos cometeram delitos, eu lamento a indicação deles, lamento profundamente”, afirmou Dilma. O filho de Erenice Israel Guerra é suspeito de intermediar contratos entre empresas e o governo.
Dilma criticou o consultor Rubnei Quícoli, pelas denúncias de suposta cobrança de propina e tráfico de influência na Casa Civil. "Acho estarrecedor que se dê credibilidade [às denúncias] com uma pessoa com aquele currículo. Estarrecedor." Quícolo já foi processado por receptação de produto roubado e passou dez meses preso por desobediência a ordem judicial.
A candidata do PT disse, porém, que não faria pré-julgamento da ex-assessora. “A ex-ministra Erenice trabalhou comigo, e enquanto trabalhou comigo demonstrou muita capacidade, muita competência e muita idoneidade.”
Dilma disse que Erenice ligou para ela no dia em que anunciou sua saída do cargo. “Ela me avisou que ia pedir demissão. Falei que ficava a cargo dela, era problema de avaliação e de critério dela. Ela que soubesse a medida mais correta para tomar”, declarou.
Comício
Dilma participa nesta tarde de comício em Campinas, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mais cedo, a candidata do PT tomou café da manhão com o ator porto-riquenho Benicio Del Toro, que interpretou Che Guevara no cinema.
A candidata do PT afirmou que o ator se mostrou interessado pela campanha eleitoral no Brasil e que eles conversaram sobre a América Latina e caribenha. “Ele estava muito interessado na eleição. Parece que ele vai ao comício. Acho que vai ser interessante. No Brasil, nós mostramos para ele que nós somos os únicos que fazem comício neste país”, disse.