Idoso tem cidadania e direitos resgatados através da Defensoria Pública
Em agosto de 2008, um senhor que aparentava ter em torno de 65 anos compareceu ao núcleo da Defensoria Pública em Juína. Identificando-se com João Vaz Machado, ele se demonstrava muito agressivo e com tom de voz alterado, esbravejava que “não existia justiça para pobre”.
Os servidores da Defensoria, inclusive com uns alunos de Serviço Social que estagiavam na instituição, conseguiram, com alguns minutos de conversa, acalmar o senhor e descobriram o que o levou a tal estágio de agressão.
Conforme relato do “seo” João, ele começou a trabalhar ainda muito pequeno, no estado do Maranhão. Com a vida muito sofrida, percorreu muitos estados a procura de trabalho e qualidade de vida. Não lembrava de ter conhecido seus pais, irmãos ou qualquer familiar que fosse. Dizia ser “desbravador de cidades”, afirmando que chegou a Juína/MT junto com os pioneiros, trabalhando no garimpo, na esperança de melhorar de vida.
Atualmente, morava sozinho, de favor, na Zona Rural, próximo ao Distrito de Filadélfia. Estava cansado e sem esperança. Era agricultor e sua avançada idade já não ajudava mais para o árduo trabalho do campo.
Não possuía nenhum tipo de documento, o que lhe impossibilitaria de pleitear aposentadoria, isso era uns dos motivos que lhe deixava tão nervoso e desacreditado na justiça e no Estado. Estava cansado de pagar cartórios em busca de sua certidão de nascimento, sem nunca obter sucesso.
Alguns dados foram colhidos para que a Defensoria Pública pudesse solucionar a questão da documentação para que o idoso pudesse ter garantidos seus direitos, inclusive sua aposentadoria.
De acordo com ele, teria nascido em uma região muito pobre, e o seu registro supostamente teria sido feito na cidade de Garanhuns – PE. “Não há justiça para a pobreza”, exclamou diante da falta de sucesso nas buscas.
Em mais uma conversa informou ao Defensor Público David Brandão Martins que havia morado também na região de Presidente Prudente/SP e Rondolândia/PR. Novas buscas nos cartórios daqueles estados, obtiveram resultado positivo junto ao cartório da cidade de Jandaia do Sul, estado do Paraná.
Em julho de 2009, finalmente, o assistido compareceu a Defensoria Pública de Juína para receber a tão sonhada e necessária certidão de nascimento. Ao pegá-la na mão, deu um beijo em seu documento e disse voltar a acreditar que existia órgão público que presta seu trabalho com carinho e dedicação.
“Entretanto, não paramos por ai. Começamos uma nova luta, para conseguir os demais documentos”, afirmou o Dr. David Martins. Por meio da gratuidade na emissão de documentos, previsto em lei, foram confeccionados seu RG, CPF e Título de Eleitor. Ainda foi solicitado, com sucesso, junto ao INSS, o Amparo Social ao idoso.
Com toda documentação em mãos e recebendo o benefício, o senhor João, sempre que se deslocava para a cidade, fazia questão de visitar a instituição que fez diferença em sua vida e agradecer pelo trabalho realizado.
O senhor João Vaz Machado, veio a óbito em data de 25 de abril de 2010, vítima de um derrame cerebral e infarto agudo do miocárdio. Porém, partiu sabendo que era um verdadeiro cidadão, devidamente documentado e acreditando no Estado e em suas instituições.