Toque de Alerta - toquedealerta.com.br
POLÍTICA
Domingo - 18 de Setembro de 2016 às 08:07
Por: R7

    Imprimir


Foto: Divulgação
Dirceu, FHC e Requião são referências para as alas minoritárias
Dirceu, FHC e Requião são referências para as alas minoritárias

Quando se pensa sobre o partido X ou Y no Brasil, algumas ideologias vêm de imediato na cabeça, seja pela ideia que a propaganda partidária vende, seja pelos clichês empurrados pela oposição.

Mas, alguns grupos dentro das agremiações destoam da corrente majoritária e podem surpreender até mesmo os eleitores mais atentos.

É o caso da ala de esquerda do PSDB, do grupo do PT que discorda das ações do governo Lula e Dilma e de parte do PMDB que foi contra o processo de impeachment e refuta o governo de Michel Temer. O discurso que os grupos têm em comum é a tentativa de resgatar as bandeiras históricas dos partidos, que tomaram novas formas desde as datas de fundação.

Rodrigo Gallo, cientista político e professor na FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), afirma que a maioria dos partidos tem alas mais “puristas”, que seguem a carta de fundação da legenda, e ressalta que esses grupos são importantes para nichos específicos do eleitorado.

— Essas alas ideológicas servem para minimizar as críticas da própria militância, para, aparentemente, mostrar que ainda existe uma lógica ideológica e, assim, fazer coligações com outros partidos, para conseguir, por exemplo, mais tempo de campanha na TV. Os partidos estão menos preocupados com ideologia e mais com a conquista e a manutenção do poder. As siglas agem com alguma ideologia, mas isso não passa na frente do principal objetivo.

A esquerda do PSDB

O “PSDB Esquerda Pra Valer” é um dos que mais destoam da concepção geral que o eleitorado tem do partido, tanto que a página do grupo no Facebook é povoada de perguntas e críticas sobre o movimento. Mas é na origem do partido que esses integrantes se apegam e se fundamentam. O PSDB foi fundado em 1988, pelo então senador Mario Covas, seus ideais seguiam a alcunha da sigla, de social democracia, e o partido nasceu como centro-esquerda.

É nessa linha que os adeptos do “PSDB Esquerda Pra Valer” escreveram seu manifesto, com propostas políticas que podem intrigar aqueles que veem o partido hoje como centro-direita conservador. No manifesto do grupo há posicionamentos como ser a favor da legalização do aborto, defender de forma "intransigente" os direitos humanos, defender o passe livre, lutar pela reforma agrária, desmilitarizar a polícia e ser contra a redução da maioridade penal.

Fernando Guimarães Rodrigues, coordenador nacional do grupo, afirma que os eleitores que pensam que o PSDB é de direita e conservador estão errados e critica aqueles que se aproximam da legenda com posicionamentos que não se apoiam na ideologia, como o caso dos antipetistas.

— O PSDB é um partido social democrata e de centro-esquerda. Em todas as entrevistas com nossos principais líderes, como o Fernando Henrique Cardoso, o partido sempre foi apresentado como esquerda.

A maior reforma agrária foi feita no governo FHC. Existe um movimento intenso antipetista e isso leva muita gente a querer se filiar ao PSDB, mas isso é ruim. Antes exigíamos compromisso com direitos humanos, questões ambientais, hoje temos pessoas entrando sem compromissos ideológicos, só por ser contra o PT.

A ala contra Temer do PMDB

No PMDB existe um grupo chamado de “Ala do Requião”, que faz referência a Roberto Requião, senador pelo Paraná, que pertence ao mesmo partido desde o início de sua vida política, em 1982, quando foi eleito deputado estadual também pelo Paraná.

Mesmo fazendo parte da legenda que mais se beneficiou com o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, os integrantes do grupo não se vangloriam da chegada do partido ao mais alto cargo do Executivo, pelo contrário. Roberto Requião Filho chama o caminho trilhado por Michel Temer à presidência de “jeitinho” e luta pela realização de novas eleições.

— O jeitinho só é bom quando agrada o que a gente quer. A relativização das leis é perigosa. O governo do Michel Temer não representa o partido, que jamais tomaria a decisão de privatizar hospitais, presídios e escolas e muito menos mexeria nos direitos trabalhistas. Esperamos que eles leiam o estatuto do PMDB, que queimem a besteira da Ponte do Futuro [programa de governo de Michel Temer] e façam um o governo realmente peemedebista.

Os petistas críticos de Lula e Dilma

Falar que existem petistas que não concordam com a forma de governo de Lula e de Dilma parece um devaneio, visto o calor daqueles que defendem esses políticos. Entretanto, uma corrente interna do partido está no meio do tiroteio de posições diferentes que há dentro da legenda.

Markus Sokol, da diretoria nacional do PT, faz parte desse grupo chamado de radical por aqueles que, segundo o militante, querem tirar crédito do movimento. Sokol explica que os integrantes defendem ícones partidários esquecidos por parte da legenda, como José Dirceu, condenado a 23 anos de prisão, e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, condenado a nove anos de detenção, ambos presos em ação da Operação Lava Jato.

— A condenação deles é arbitraria, não tem materialidade.

Além da defesa dos “esquecidos”, a corrente preza pelos princípios de fundação do PT, os quais o grupo considera que não foram seguidos por Lula e Dilma.

— O PT nasceu contestando instituições, mas não fez uma reforma e acabou se moldando a elas [instituições]. O poder econômico passou a apontar antes quem ganha as eleições internas do partido. Virou uma luta pelo controle. Os dirigentes entraram no jogo político tradicional. Queremos reconstruir o partido.





URL Fonte: https://toquedealerta.com.br/noticia/24165/visualizar/