Temer diz que ministros que aparecerem em delações podem pedir demissão Fala de presidente em entrevista ocorre às vésperas da nova lista de políticos investigados a ser encaminhada pelo procurador-geral da República Rodrigo Janot com base nas delações premiadas de ex-executivos da Odebrecht
O presidente Michel Temer (PMDB) disse em entrevista à Rádio CBN nesta sexta-feira, 10, que algum ministro de seu governo pode, eventualmente, pedir demissão do cargo pela pressão após citações em delações premiadas, mesmo antes de ser denunciado formalmente ao Supremo Tribunal Federal (STF). Mas destacou que a abertura de inquérito contra membros do governo não fará com que o ministro seja afastado automaticamente. A afirmação foi dada quando perguntado sobre os impactos da segunda lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com base nas delações de executivos e ex-executivos da Odebrecht na Lava Jato.
Em entrevista gravada ao jornalista Jorge Bastos Moreno, Temer enfatizou a regra de afastar provisoriamente um ministro se for oferecida alguma denúncia formal no Supremo Tribunal Federal e de afastá-lo definitivamente se o político se tornar réu na Corte. "Mas pode acontecer que haja tal pressão que o ministro diga: Olha, eu não quero continuar. Isso pode acontecer, mas aí, eu tenho que esperar os acontecimentos", disse o peemedebista, em referência a menções de membros do governo em delações premiadas.
A fala do presidente ocorre em meio à licença do ministro Eliseu Padilha, que está afastado do cargo por motivos de saúde, mas foi citado por delatores da Odebrecht como um dos responsáveis pelo recebimento de recursos oriundos do "departamento de propinas" da Odebrecht.
Eduardo Cunha. O presidente negou na entrevista que haja alguma influência do ex-presidente da Câmara e deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que está preso pela Lava Jato em Curitiba (PR). A afirmação foi feita em resposta ao líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), que pediu que o ministro licenciado da Casa Civil, Eliseu Padilha, voltasse "imediatamente" ao cargo para evitar que um aliado de Cunha assumisse o posto.
"Essas afirmações não têm sustentação", afirmou o presidente, dizendo que era impossível Cunha "influenciar alguma coisa" neste momento. "Não há influência nenhuma." Quanto a Renan, Temer disse que continua dialogando permanentemente com o líder e que o parlamentar entende a importância das reformas.
Reforma.Diante da busca do governo para aprovar a reforma da previdência e das declarações de membros da base aliada afirmando que a proposta não passa como está, o presidente disse que o tema pode ter objeções, mas que o governo vai até onde puder para dialogar com os parlamentares no sentido de aprovar a emenda com os termos enviados ao Congresso. "Haverá observações e objeções, é natural que haja. Vamos até onde pudermos, é preciso dialogar, e nosso diálogo será no sentido de aprovar tal como está", afirmou.
Eleições. Ao ser perguntado sobre se pretende concorrer à reeleição em 2018, o presidente repetiu que, ao fim do mandato, a única coisa que deseja é ser reconhecido pela história. "Nada mais do que isso, tenho feito meu trabalho e sairei com a consciência de alguém que prestou um serviço ao País", falou.