ESPORTE EDUCACIONAL
Proposta dos Jogos Escolares é integrar esporte ao aprendizado O evento é competitivo, mas também pode se relacionar com as disciplinas aplicadas em sala de aula
Havia uma garota com baixa estima por conta da estatura e sobrepeso. Na escola, tinha dificuldades de se relacionar com os colegas. Mas seu porte chamou atenção de um professor de Educação Física, que a colocou para praticar basquete. No esporte, ela se encontrou. Fez amigos, parou de ter vergonha do corpo, tomou gosto pelos estudos e hoje, já adulta, é uma profissional bem sucedida.
Essa história foi contata pelo professor de Educação Física, Manoel Fonseca, durante uma reunião com professores na cidade de Cáceres (234 km a Oeste de Cuiabá). Manoel também é o coordenador de Esporte Educacional da Secretaria de Estado de Educação, Esporte e Lazer (Seduc-MT). Ele, juntamente com a equipe, está fazendo uma série de viagens pelo interior do estado para divulgar a proposta pedagógica dos Jogos Escolares da Juventude de Mato Grosso.
A transformação se faz necessária, pois nos últimos anos tem sido assim: mais de mil estudantes, entre 12 e 17 anos, vão participar dos jogos em uma cidade. Nessa cidade, eles ficam alojados em escolas e competem durante uma semana em modalidades como basquete, futsal, handebol e vôlei.
O problema é que essa semana não conta como hora-aula e é necessário todo um movimento dos professores para repor esses dias no calendário letivo. Isso faz com que muitos docentes torçam o nariz para os jogos escolares.
Neste ano, a proposta da Seduc é mostrar que os jogos também podem contar como dias letivos, como verdadeiras aulas de campo em disciplinas como história, geografia, português e matemática. Em suma, a ideia é utilizar a competição como ferramenta educacional, dentro do calendário pedagógico da rede estadual de ensino.
Para explicar como os jogos se relacionariam com as disciplinas básicas, o professor Manoel deu um exemplo hipotético de um grupo de alunos que, durante a competição, poderia fazer uma série de levantamentos estatísticos nos bares, restaurantes e comércio da cidade para saber qual seria o impacto do evento na economia da região. “Esse trabalho pode contar como aula de matemática e também servir de subsídio tanto para Seduc quanto para o município”, sugeriu o professor.
Outro exemplo é que os alunos também podem fazer entrevistas com os estudantes de outras regiões que vieram competir na cidade. Nessa aula, eles colheriam informações como o costume e tradição de cada município participante de uma determinada etapa dos jogos. “Isso já poderia contar como hora-aula na disciplina de história”, mencionou Manoel.
O professor enfatizou que ao fazerem essas atividades, os demais alunos que não foram selecionados para competir não ficam ociosos durante os jogos e, dessa forma, toda a comunidade escolar é envolvida num grande processo pedagógico. “A aprendizagem não se dá apenas com conteúdo em sala de aula. Às vezes, um estudante assimila com mais facilidade uma disciplina durante uma aula de campo”, argumentou.
Questionamentos
De uma maneira geral, os professores em Cáceres concorram com a proposta pedagógica dos jogos e a maioria entende que a competição é um instrumento de aprendizagem.
No entanto, eles ponderaram que a proposta não foi discutida antecipadamente com a assessoria pedagógica de Cáceres e as datas dos jogos não batem com o calendário letivo.
O professor Manoel reconheceu que faltou uma discussão mais ampla do assunto. Porém, justificou que a proposta não foi apresentada com maior antecedência por conta das eleições municipais, do ano passado, que provocaram troca de prefeitos e isso acarretou na demora da definição das cidades sedes dos jogos.
Ele detalhou que a ideia era discutir a proposta pedagógica dos jogos em novembro passado. Mas, sem a definição das sedes, não foi possível. “Nada é imposto, os municípios primeiro precisam manifestar o interesse de receber os jogos na cidade”, salientou.
No entanto, o professor disse que os jogos, com esse viés educacional, será uma tendência daqui em diante e nos próximos anos essas questões de calendário certamente estarão ajustadas. “Os Jogos Escolares, como ferramenta de aprendizagem, é uma das principais prioridades da Seduc”, afirmou.
Vistorias técnicas
Além de apresentar a proposta pedagógica dos jogos, os servidores da Seduc também fazem vistorias técnicas nas cidades-sedes da competição. O objetivo é verificar se as praças esportivas do município possuem condições para receber as partidas dos jogos nas modalidades de handebol, basquete, vôlei, futsal, ginastica rítmica e xadrez.
Os técnicos chegaram em Cáceres na quarta-feira passada (22.03) e ficaram na cidade até a noite desta sexta-feira (24.03). Até a primeira quinzena de abril, todas as cidades-sedes serão visitadas. As próximas vistorias são nos municípios de Alto Boa Vista, Santo Antônio do Leverger, Água Boa, Sapezal, Guarantã do Norte, Nova Mutum, Alta Floresta, Sorriso e Barra do Garças.
Os Jogos Escolares da Juventude (Etapas regionais e estaduais) são uma realização da Secretaria de Estado de Educação, Esporte e Lazer (Seduc-MT), em parceria com as cidades sedes dos jogos. A competição é dividida em 10 etapas regionais e três etapas estaduais, que mobilizam cerca de 10 mil estudantes.