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ASSISTÊNCIA SOCIAL
Quinta - 30 de Março de 2017 às 18:06
Por: Redação TA c/ TJ-MT

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Fotos: Tony Ribeiro

Já passam das 20h quando o juiz José Antonio Bezerra Filho, o ‘doutor Tony’, decide partir para a ação e pôr ‘mãos à obra’ em mais uma terça-feira (28 de março) do programa Justiça Comunitária. O cardápio do dia é carne de panela, arroz branco, feijãozinho e salada. O objetivo é dar um vislumbre de oportunidade àqueles que estão à margem da sociedade – alcoólatras, dependentes de drogas, moradores de rua e toda sorte de desafortunados que a capital mato-grossense reúne.

O furgão do Poder Judiciário dá sinalização, para e desliga o farol. No mapa estamos entre o Morro da Luz e a Igreja do Rosário, no centro de Cuiabá – região apelidada de “Ilha da Banana”. Mas na realidade vemos um cenário de pós-guerra, ou de ficção científica pós-apocalíptico. O cheiro acre, com uma combinação de lixo, comida podre e dejetos, arde os olhos e, de forma automática, a mão vai ao nariz. Casas e imóveis que um dia abrigaram escritórios pujantes e retrato da economia forte, hoje semidemolidos, servem de abrigo para dezenas de pessoas.

“Este é um alento que o Poder Judiciário traz a essas pessoas. Já vivemos e presenciamos várias histórias de alguns que se encontram nessa situação por indefinidos motivos e acabam por mergulhar no mundo das drogas. A justiça dá um braço, um vislumbre para aqueles que querem sair daqui dessa situação. Mas é preciso querer”, comentou o magistrado. A ajuda é levar um documento aqueles que não têm, uma passagem de ônibus para alguns que estão longe de casa, a oferta de serviços do Poder Judiciário e o encaminhamento aos demais poderes como Defensoria Pública e secretarias de Assistência Social.

A boa intenção da janta serve de convite e abre as ‘portas’ daqueles que estão vivendo em um mundo diferente. “Entra aí, não repara muito. Estávamos com medo de ser a polícia. Eles estavam ali embaixo”, disse a moradora do pequeno cômodo - sem janela e que teve uma ‘cortina’ improvisada para evitar a chuva e o vento. O quarto, que antes fora um escritório, contava com uma luz, improvisada de um ‘gato’ (ligação irregular), um colchão jogado no chão num canto e noutro lado várias roupas sujas amontoadas junto a alimentos.

“As pessoas viram o rosto ao passar por aqui, mas algumas dessas pessoas sonham em ser resgatadas. São pessoas excluídas do sistema por problemas como alcoolismo, drogas, doenças mentais, desavenças com familiares, desemprego, desilusão com a vida. Mas mesmo aqui há vida e esperança”, disse uma das voluntárias, Jocasta Ramos, ao sair de dentro de um estacionamento que acabou por se transformar em esconderijo e morada de quase uma centena de pessoas.

Ali naquele local totalmente sem luz, com esgoto pingando do teto e apenas algumas luzes de cachimbos improvisados, um dos voluntários pergunta: “Gente, tem comida, quem quer jantar?”. Os olhares são reciprocamente curiosos: de um lado a desconfiança daqueles que sobrevivem a cada dia. De outro, os olhares daqueles que mal podem acreditar na situação insalubre que o lugar ofereceria a qualquer forma de vida.

Ao aproximar do feixe de luz que o local oferecia, Dona Tereza, a única que não conseguiu se esconder, nos recepciona com um “Quem está aí?”. Cinquenta anos, com uma perna amputada e numa cadeira de fios, a mulher - usuária de drogas - chora ao reconhecer a voluntária do Judiciário. A história é muito mais complexa, mas a síntese é que Tereza, que teve um problema na perna, foi deixada pelos parentes.

Noutra incursão da Justiça Comunitária, há um ano, a mulher foi encaminhada ao médico e acabou tendo que amputar a perna. Hoje, meses depois da cirurgia, ainda está com os pontos, sem remédios e sobrevivendo sem mobilidade alguma, migrando de uma cadeira de fios a um colchão velho mofado e jogado ao seu lado.

Acompanhados pela equipe da Polícia Militar e após deixar a ‘Ilha da Banana’, a equipe ainda passou pelo Beco do Candeeiro, Praça da República e no viaduto da Rodoviária.





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