Lava-Jato chega aos amigos e assessores especiais de Temer Delações e investigações da Polícia Federal levantam suspeitas sobre do presidente
Não bastasse ter o núcleo duro de seu governo atingido por denúncias, Michel Temer também viu, nos últimos seis meses, os aliados que viviam à sua sombra serem colocados sob suspeita. Delações e investigações da Polícia Federal atingiram de amigos de longa data a assessores do Palácio do Planalto.
As acusações dos executivos da JBS, tornadas públicas no último dia 19, trouxeram para os holofotes até pessoas ligadas a Temer que estão longe da política. Próximo ao peemedebista desde os anos 1980, o policial militar aposentado João Batista Lima Filho, conhecido como coronel Lima, teria recebido, segundo depoimento de Ricardo Saud, da JBS, R$ 1 milhão do "dinheiro que Temer roubou para ele do valor pago pelo PT para comprar o apoio do PMDB a Dilma Rousseff na eleição presidencial de 2014".
Lima faz parte do trio de amigos mais íntimos do presidente, ao lado de José Yunes - ex-assessor especial da Presidência que deixou o cargo em dezembro após um executivo da Odebrecht revelar que ele recebeu R$ 1 milhão em 2014 - e de Wagner Rossi — também citado na delação da JBS.
São as pessoas que ele mais confia. São relações de décadas. Os três têm grande intimidade com o Michel — conta um peemedebista.
Outro integrante do núcleo paulista atingido pela delação da JBS foi o marqueteiro Elsinho Mouco, que trabalha com Temer há mais de 15 anos. Entre o grupo formado pelo presidente durante o seu período na Câmara e levado ao Planalto, foram acusados o deputado Rodrigo Rocha Loures e ex-assessores especiais Sandro Mabel e Tadeu Filipelli.
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Rodrigo Rocha LouresO deputado federal que recebeu a mala com R$ 500 mil se aproximou de Temer no seu primeiro mandato na Câmara, em 2007. Começou na política em 2003, no Paraná, como chefe de gabinete do governador Roberto Requião. Peemedebistas do estado afirmam que Temer e Loures se aliaram para tirar força de Requião no estado. Em 2010, foi chamado por Lula em um evento de campanha de “Alencarzinho do Paraná”, numa referência ao ex-vice José Alencar. Seu pai, empresário, foi candidato a prefeito de São José dos Pinhais, em 2012, e recebeu o apoio até de Marina Silva.
Coronel LimaAcusado pelo executivo da JBS Ricardo Saud de ter recebido R$ 1 milhão em nome de Temer, o coronel aposentado da PM paulista João Batista Lima Filho se tornou amigo de Temer quando o presidente era secretário de Segurança de São Paulo, entre 1984 e 1986. Desde então, nunca mais se separaram. É dono de fazenda em Duartina já invadida por sem terra, que acusam Temer de ser sócio oculto da propriedade. “Ele era uma espécie de chefe informal do escritório político do Michel em São Paulo. É a pessoa mais próxima de todas”, relata um peemedebista.
Tadeu FilippelliFiliado ao PMDB desde 1995, o ex-vice-governador do Distrito Federal Tadeu Filippelli tem uma habilidade que interessa a Temer: interlocução com a bancada do partido. Quando Temer virou vice de Dilma, Filippelli ganhou destaque. Foi na casa dele que Temer reuniu os deputados do partido em 2014, quando se agravaram os problemas com o governo Dilma. Em 2016, Filipelli foi um dos quatro aliados escalados por Temer para acompanhar, no Palácio do Jaburu, a votação do impeachment. Depois da posse, foi acionado para ajudar a cuidar das nomeações de segundo e terceiro escalões.
José YunesAmigo do presidente desde a época em que estudaram juntos na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, Yunes sempre atuou como uma espécie de preposto de Temer no PMDB paulista. Apontado como destinatário de propina, acusou o ministro Eliseu Padilha de tê-lo usado como “mula”. Coordenou as duas últimas campanhas dos candidatos da legenda a prefeito de São Paulo (Gabriel Chalita, em 2012, e Marta Suplicy, em 2016).
Elsinho MoucoÉ o marqueteiro de Temer há pelo menos 15 anos. Desde que se conheceram, passou a fazer parte do grupo de conselheiros. Logo após Temer assumir o poder, ficou famoso ao criar o novo logotipo do governo. Na época, disse que era um presente e não receberia pelo trabalho. Na delação, Joesley afirmou ter pago R$ 300 mil ao marqueteiro antes do impeachment para que ele planejasse uma contraofensiva na internet, em razão dos ataques de que Temer era alvo.
Wagner RossiMinistro da Agricultura demitido em 2011 durante a “faxina” promovida por Dilma Rousseff, Wagner Rossi é apontado como responsável por apresentar Temer a Joesley Batista. De acordo com o dono da JBS, o presidente pediu que fosse pago um “mensalinho” de R$ 100 mil a Rossi depois que ele deixou a pasta. O ex-ministro da Agricultura é pai do líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Baleia Rossi.