Empresas de Perrella fizeram transações suspeitas de R$ 21 mi, diz Coaf Órgão da Fazenda que rastreia movimentações financeiras atípicas cita Tapera Participações apontada como destinatária de parte de R$ 2 milhões da JBS a Aécio
O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) comunicou à Procuradoria-Geral da República a identificação de movimentações ‘suspeitas’, nos últimos três anos, que totalizaram R$ 21 milhões nas contas de empresas ligadas ao senador Zezé Perrella (PMDB-MG) – entre elas, a Tapera Participações, apontada como destinatária dos R$ 2 milhões da JBS ao senador Aécio Neves (PSDB-MG).
O Coaf é um órgão ligado ao Ministério da Fazenda responsável por comunicar atividades financeiras que levantam suspeitas sobre lavagem de dinheiro aos órgãos de investigação. Saques e depósitos de mais de R$ 100 mil em espécie são sempre comunicados ao Conselho, mesmo que não levantem indícios de crimes.
No âmbito da Operação Patmos – que mira o presidente Michel Temer, seu ex-assessor Rocha Loures, flagrado com mala estufada de propinas da JBS, e o senador Aécio Neves (PSDB/MG) – o Ministério Público Federal tem em mãos um relatório do Conselho que detalhou as atividades de empresas ligadas a Perrella.
O senador não é investigado, porém, uma de suas empresas, a Tapera Participações, é apontada por procuradores como receptora de parte dos R$ 2 milhões supostamente solicitados em abril por Aécio à JBS, segundo mostra gravação feita pelo acionista do grupo, Joesley Batista.
O relatório do Coaf apontou que somente a Tapera Participações movimentou R$ 6,4 milhões em espécie, entre 2014 e 2017. A maior parte dos valores foi sacada, provisionada ou depositada por Mendherson Souza, ex-assessor de Perrella, preso na Patmos.
Em ação controlada no dia 12 de abril, a Polícia Federal filmou o primo de Aécio, Frederico Pacheco, o Fred, pegando a mala de dinheiro com 10 mil notas de R$ 50 na sede da JBS, em São Paulo, entregue pelo diretor de Relações Institucionais da J&F, Ricardo Saud. Em seguida, o primo do tucano é flagrado entregando o montante a Mendherson, à época, assessor parlamentar e homem de confiança de Zezé Perrella.
Em seguida, Mendherson viajou a Belo Horizonte de táxi. De acordo com o Ministério Público Federal, o dinheiro em espécie foi parar na Tapera. Relatórios de buscas e apreensões também dão conta de que R$ 480 mil foram escondidos por Mendherson na casa de sua sogra, em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte.
De acordo com os relatórios do Coaf, logo após ter recebido o dinheiro em espécie de Fred, Mendherson fez um pedido de ‘provisionamento’ para saque de R$ 103 mil na conta da Tapera Participações, no período entre a data e o dia seguinte do repasse que recebeu de Fred. O filho de Zezé Perrella, segundo o órgão, sacou aproximadamente a mesma quantia, em dinheiro vivo.
Outra empresa relacionada em documento do Coaf é a Limeira Agropecuária, proprietária do helicóptero apreendido em 2013, com R$ 445 kg de cocaína. A Limeira está em nome de Gustavo Perrella, o filho de Zezé
Atualmente, a Justiça Federal julga cinco pessoas por tráfico de drogas relacionado ao transporte do entorpecente no helicóptero. À época da apreensão, foi descoberto que Gustavo Perrella, então deputado estadual, abastecia a aeronave com verba de gabinete. O senador e o filho não são alvo de ação penal que investiga tráfico de drogas com o uso do veículo. O Coaf aponta transações atípicas no valor de R$ 14 milhões envolvendo conta bancária da Limeira.
“Tudo é declarado, os impostos pagos , a Limeira vendeu só no ano passado e agora perto de 27 milhões em terra, fazenda. Agora, recentemente, vendeu mais 7, então vai encontrar até mais do que isso. É dinheiro com fazenda, terrenos, vendas absolutamente legais, escrituras passadas no valor cheio, impostos rigorosamente recolhidos. não há nenhuma irregularidade. São todas as movimentações financeiras provenientes de movimentação de venda de terra. Evidentemente , não tem nada de suspeito nisso. Também ressalto que ele não tem nenhuma responsabilidade sobre esses R$ 2 milhões de reais emprestados ao Aécio, zero, esse dinheiro não entrou na conta dele. Temos os comprovantes, os extrados de que esse dinheiro, da onde veio, a identificação. Quem tem que explicar de onde veio esse dinheiro é o Fred e o Mendherson, que realmente era assessor do Zeze e era além disso uma pessoa que tomava conta da tapera porque era de absoluta confiança do Zezé. Agora, ele não depositou um tostão desses R$ 2 milhões. Quanto aos R$ 27 milhões, é absolutamente correto, declarado, venda de terra com valor cheio e recolhimento de imposto. A limeira, que é a empresa que vende esses terrenos, fazendas e tal, tem tudo isso absolutamente regular. Pode ficar certo que não tem irregularidade. Não há o que se falar em operação suspeita. Estamos falando da limeira e da tapera, que são empresas dele”.