Decisão do TSE influi na fidelidade da base aliada Julgamento no TSE, deliberação do PSDB e possível delação premiada de Rocha Loures são fatores de instabilidade na Câmara
Mesmo após três semanas de forte turbulência política causada pela delação da JBS, o movimento pelo desembarque do governo ainda é tímido em grandes partidos da base aliada, entre eles, PR, PSD, PP, DEM e PRB. Nessas legendas, são poucos os parlamentares que já defendem o rompimento com o presidente Michel Temer. Por interesses eleitorais ou até para manterem o foro privilegiado, dirigentes e ministros dessas siglas atuam fortemente nos bastidores para conter qualquer movimento de desembarque.
Lideranças desses partidos dizem, no entanto, que esse cenário pode mudar dependendo do julgamento marcado para hoje, 6, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pode levar à cassação de Temer e, principalmente, do PSDB, principal fiador de Temer no Congresso Nacional e que ameaça deixar o governo. A avaliação é de que um eventual rompimento dos tucanos provocará um efeito cascata de desembarque de outras siglas, deixando a situação de Temer na Câmara e no Senado ingovernável.
Outro fator de instabilidade é Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), o suplente de deputado flagrado pela Polícia Federal recebendo uma mala cm R$ 500 mil de propina de executivo da JBS. Loures, que era assessor especial de Temer desde 2011, foi preso no último sábado, 3, em Brasília. Grávida, a esposa do peemedebista pressiona o marido a fazer delação premiada. A avaliação na base governista é de que uma eventual delação dele tem potencial de acabar com o governo Temer.
No PR, quinto maior partido da Câmara, apenas sete dos 39 deputados defendem o desembarque, segundo o líder da sigla na Casa, José Rocha (BA). Entre eles, Cabo Sabino (CE), Delegado Waldir (GO) e Zenaide Maia (RN). Deputado licenciado, o ministro dos Transportes, Maurício Quintella, atua nos bastidores para evitar que o movimento cresça. Integrantes do PR dizem que ele quer permanecer no governo para usar a capilaridade política da Pasta a seu favor, com vistas às eleições de 2018, quando quer disputar uma vaga no Senado.
Estabilizado. No DEM, partido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), os cálculos são de que apenas dois dos 29 deputados são favoráveis ao rompimento: Onyx Lorenzoni (RS) e Luiz Henrique Mandetta (MS). No Senado, porém, o líder do partido, Ronaldo Caiado (GO), defende o desembarque do governo, com a entrega do Ministério da Educação, Pasta comandada pelo partido. Assim como a oposição, ele prega que o substituto de Temer seja escolhido por eleições diretas, e não por indiretas, como prevê a Constituição.
"O DEM está estabilizado. No primeiro momento, houve uma insegurança, mas prevaleceu a tese de alinhamento com o presidente Rodrigo Maia, que tem sido o pilar de sustentação do governo", afirmou o líder da legenda na Câmara, deputado Efraim Filho (PB). Como Maia é o primeiro na linha sucessória da presidência da República, o partido quer evitar qualquer movimento em relação ao governo Temer, para não passar a imagem de que está agindo em causa própria.
Dono da terceira maior bancada da Câmara, com 47 deputados, o PP tem apenas um parlamentar que já defendeu publicamente o rompimento com o governo: Jerônimo Goergen (RS). "Defendo apoio às propostas do governo, não à figura do presidente. Ele perdeu as condições de liderar o País", afirmou o deputado, que integra a bancada ruralista. Ele reconhece, contudo, que dificilmente o partido deixará o governo agora. O PP comanda dois importantes ministérios, Agricultura e Saúde, além de ocupar a liderança do governo na Câmara.
No partido, o grupo do deputado Waldir Maranhão (MA), formado por cerca de 10 deputados, ainda não chegou a defender publicamente o desembarque do governo, mas já discute com integrantes de outras legendas nomes de um eventual substituto de Temer. As conversas do grupo de Maranhão acontecem com parlamentares e dirigentes do PSB, PDT, PC do B e PDT, siglas das oposição que defendem a saída de Temer.
Foro privilegiado. No PSD e PRB, o movimento pró-rompimento com o Palácio do Planalto também é considerado controlado. Segundo integrantes desses partidos, o desembarque é defendido por parlamentares que já eram contrários ao governo antes da delação da JBS. São eles: os deputados Fábio Mitidieri (SE) e Expedito Netto (GO), ambos do PSD, e Jony Marcos (PRB-SE). "Não escutei vontade de nenhum deputado de desembarcar. Vamos ficar até onde puder", afirmou o líder do PSD na Câmara, Marcos Montes (MG).
Presidentes licenciados do PSD e do PRB, respectivamente, os ministros Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações) e Marcos Pereira (Indústria, Comércio Exterior e Serviços) atuam para minimizar qualquer movimento a favor do desembarque. Como não possuem mandatos parlamentares nem no Executivo, os dois só mantêm o foro privilegiado enquanto estiverem nos cargos de ministro. Ambos foram citados nas delações da Odebrecht e da JBS, mas negam qualquer irregularidade.
Embora atue contra o desembarque, Kassab já conversa com dirigentes de outros partidos e monitora os passos do PSDB. Na semana passada, o ministro se reuniu com o presidente nacional do partido, senador Tasso Jereissati (CE), apontado como um dos possíveis candidatos a presidente em eventual eleição indireta, para conversar sobre o cenário político pós delação da JBS. O líder do PSD na Câmara também já defendeu publicamente que Maia é um "bom candidato" a presidente, caso Temer seja cassado ou renuncie o cargo.
Também da base aliada, o PTB está totalmente controlado, de acordo com o presidente nacional do partido, o ex-deputado Roberto Jefferson (RJ). "Não tem ninguém falando em desembarque", afirmou. Para o político fluminense, o TSE não cassará Temer. "Penso que o TSE vai dar uma solução equilibrada que não ameaça a permanência do presidente Temer no governo. Já achei que ia dar problema. Agora, não acho mais, não. A crise já deu uma amenizada", afirmou.
Independentes. Com a sétima maior bancada da Câmara (36 deputados), o PSB já rompeu oficialmente com Temer, embora ainda esteja a frente do Ministério de Minas e Energia. O grupo oposicionista é liderado pelos deputados Júlio Delgado (MG) e Bebeto (BA). Eles contam com o respaldo da direção partidária, que se juntou a outros partidos da oposição na defesa de eleições diretas para presidente. "A maioria é a favor do desembarque. Acho que uns 20, 22 deputados", calcula Delgado.
A ala governista da legenda, por sua vez, é comandada pelo ministro de Minas e Energia, o deputado licenciado Fernando Coelho Filho (PE), e o pai dele, o senador Fernando Bezerra (PE), que comanda a bancada do partido no Senado. A líder do PSB na Câmara, Tereza Cristina (MS), também integra o grupo governista. Eles reconhecem que não tem maioria hoje a favor da permanência no governo.
Com uma bancada de 10 deputados, o PPS diz atuar hoje de forma independente na Câmara, apesar de manter o comando do Ministério da Defesa, com Raul Jungamann. O movimento a favor de um desembarque completo do governo é liderado pelo líder do partido na Casa, deputado Arnaldo Jordy (PA). Antes da delação da JBS, a legenda ocupava dois ministérios. Roberto Freire (SP) entregou o cargo de ministro da Cultura e retomou o mandato de deputado. Ele diz que não fará oposição e que votará a favor da reforma da Previdência.