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POLÍCIA
Sexta - 20 de Outubro de 2017 às 17:42
Por: Gazeta Digital

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João Vieira
Delegada Ana Cristina Feldner
Delegada Ana Cristina Feldner

Após ter deixado as investigações do esquema de interceptação telefônica clandestina no âmbito do Estado, por determinação do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Mauro Campbell, que assumiu os seis inquéritos relativos ao caso, a delegada Ana Cristina Feldner chegou perto, mas não conseguiu alcançar todas as respostas para os questionamentos que se faziam para desvendar toda a trama criminosa de espionagem.

“As investigações iriam prosseguir pra gente identificar realmente todo o contexto. Nós não estamos falando da investigação até porque nós não temos essa resposta ainda, mas vamos falar de forma hipotética. Esse é um dos pontos a serem ainda esclarecidos pela investigação: qual a motivação de se ouvir pessoas? Será que essas pessoas estariam ligadas de alguma forma a alguma crítica ao governo? Será que foram vendidas essas interceptações? Será que havia uma movimentação financeira por trás disso também? Será que de alguma forma ela estava litigando em algum escritório que pertencesse à organização criminosa? Então, são pontos que a investigação prosseguindo, ela deve responder a essas perguntas”, disse em entrevista ao programa Cadeia Neles.

Acerca da suspeita de comercialização das informações privilegiadas obtidas através de escutas realizadas na modalidade “barriga de aluguel”, por meio de fraudes em ações judiciais, o advogado Thiago Abreu, que faz a defesa do cabo da Polícia Militar Gerson Luiz Ferreira Corrêa Júnior, que já confessou ter sido o operador do esquema, disse ao Gazeta Digital que o acusado não fez esse tipo de coisa. “Ele não vendia informação, não ganhou dinheiro com isso. O único valor que existia na conta dele além dos salários, era um valor de R$ 30 mil, que era parte dos R$ 50 mil que o Paulo [Taques] entregou”, afirmou.

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Segundo o advogado, o dinheiro foi repassado a Gerson pelo coronel da Polícia Militar Evandro Lesco, ex-chefe da Casa Militar, e posteriormente entregue ao empresário Marilson da Silva, que foi quem forneceu os sistemas Wyrton e Sentinela utilizados para efetuar os grampos, o que foi relatado aos delegados Ana Cristina Feldner e Flávio Stringuetta. “Ele teve que justificar: recebi do Lesco e passei pro Marilson”, disse.

Motivações políticas

Apesar das perguntas não respondidas, a delegada afirma que já tem em mente quais eram os interesses e de quem eram esses interesses na chamada “grampolândia pantaneira”, o que aponta para a participação do governador do Estado Pedro Taques (PSDB), uma vez que o esquema criminoso começou durante as eleições de 2014, quando ele se elegeu e quando seus adversários foram alvos das espionagens.

“O que já foi revelado foi o cunho político. São interceptações que iniciaram próximo a um pleito eleitoral de um governador do Estado. Inicialmente, interesse político, isso já é declarado. Até então, do primeiro, segundo e terceiro colocados dos candidatos, o segundo e o terceiro foram interceptadas pessoas ligadas à parte estratégica da campanha, menos do primeiro lugar dentre os candidatos, o que já demonstra todo esse cunho político e de onde partiu”, afirmou Ana Cristina Feldner.

Conforme a delegada, a participação de policiais militares também ficou esclarecida na investigação e, isso teria colaborado para beneficiar o grupo criminoso na eleição de 2014. “É um absurdo! São policiais da alta cúpula, excelentes profissionais, que fique esclarecido, que deveriam estar no combate realmente da criminalidade, que nesse momento estão em total desvio de conduta, total desvio de função, interceptando, obtendo informações privilegiadas de cenário político, sendo capazes sim de interferir em pleito eleitoral e mais: chegando até às interceptações particulares”, afirmou.

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Com a suspeita de que os grampos tivessem sido utilizados para sabotar o resultado da eleição de 2014, em maio, quando surgiu o escândalo apresentado em rede nacional pelo programa Fantástico, o advogado José Patrocínio, que foi coordenador jurídico de Lúdio Cabral (PT) naquele pleito e uma das vítimas da espionagem ilegal, afirmou que era de interessa da chapa para a qual atuou entrar com uma ação na Justiça eleitoral pedindo a cassação do registro de candidatura de Pedro Taques, mas isso acabou não acontecendo.

Advogado José Patrocínio

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Grampos em 2016

Além da suposta sabotagem na eleição de 2014, o mesmo esquema teria sido utilizado pela organização criminosa para fraudar também as eleições municipais do ano passado, na cidade de Lucas do Rio Verde, episódio em que a suspeita de venda informações privilegiadas surge novamente.

Segundo depoimento prestado pelo coronel PM Airton Siqueira, ex-chefe da Casa Militar e ex-secretário de Justiça e Direitos Humanos, Otaviano Pivetta, ex-prefeito de Lucas do Rio Verde (354 Km ao Norte de Cuiabá) teria sido mais uma das vítimas dos grampos. O serviço de arapongagem teria sido contratado por Rogério Ferrarin, coordenador da campanha do prefeito eleito em 2016, Luiz Binotti, pelo valor de R$ 20 mil.





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