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POLÍTICA
Terça - 15 de Maio de 2018 às 21:33
Por: Antonio Werneck, repórter de O Globo

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Divulgação/PF
Traficante Cabeça Branca foi preso em 1º de julho de 2017 após ficar foragido por 30 anos
Traficante Cabeça Branca foi preso em 1º de julho de 2017 após ficar foragido por 30 anos

A Polícia Federal (PF) tem indícios de uma possível conexão entre políticos brasileiros e o traficante Luiz Carlos da Rocha, o Cabeça Branca, preso no dia 1º de julho de 2017, em Sorriso (MT), que é apontado com um dos maiores traficantes internacionais de drogas da América do Sul, com conexões em dezenas de países.

A ligação apareceu com o doleiro Carlos Alexandre de Souza, o "Ceará", preso nesta terça-feira durante a Operação "Efeito Dominó", que investiga lavagem de dinheiro proveniente do tráfico internacional de drogas.

Segundo as investigações, dinheiro obtido pelo traficante, repassado ao doleiro, estaria sendo usado no pagamento de propina de políticos.

“O que nos temos até agora são apenas indícios. Só poderemos confirmar essas informações no decorrer das investigações”, afirmou o delegado Elvis Secco, que coordernou a prísão de Cabeça Branca e foi responsável por parte importante da operação deglagrada hoje.

Até ser preso ano passado, Cabeça Branca comandou por mais de duas décadas um esquema de tráfico internacional de drogas responsável por abastecer mensalmente com pelo menos cinco toneladas de cocaína, com alto grau de pureza, países na Europa, na África e nos Estados Unidos. No Brasil, seria o principal fomentador da guerra travada entre quadrilhas rivais de criminosos no Rio e em São Paulo, fornecendo cocaína mais barata e sem tanta pureza para bandidos ligados às maiores facções do país.

Em mais de 20 anos de atividades no crime, a Polícia Federal estima que ele tenha reunido uma fortuna em bens que chegariam a pelo menos US$ 100 milhões (cerca de R$ 325 milhões) e movimentado uma cifra superior a R$ 1,2 bilhão.

Valores que transformam Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, e Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, bandidos classificados como barões das drogas no continente, como criminosos pés-de-chinelo. Não há ninguém do nível de Cabeça Branca sendo procurado pela Polícia Federal no momento.

Segundo o delegado Elvis Secco, atualmente nos Estados Unidos investigando um braço da quadrilha do traficante em território americano, Cabeça Branca teria usado cerca de 200 nomes (entre pessoas físicas e jurídicas) para lavar cerca de R$ 100 milhões entre 2014 e 2017, apenas no Mato Grosso.

“Sabemos que os políticos estavam usando dinheiro do tráfico para pagar propina. O que estamos verificando é se eles sabiam”, afirmou Secco.

Oito pessoas foram presas nas operações desta terça-feira, incluindo o doleiro Carlos Alexandre de Souza, o "Ceará", investigado na Lava-Jato. Ele teria quebrado acordo de delação premiada. Agentes da PF cumpriram mandados no Distrito Federal, Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará, Paraíba, Mato Grosso do Sul e São Paulo.

A "Efeito Dominó" é um desdobramento da Operação "Spectrum", que desarticulou a quadrilha chefiada por Luiz Carlos da Rocha, o Cabeça Branca, um dos maiores traficantes internacionais de drogas da América do Sul com conexões em dezenas de países. Nesta terça, cerca de 90 agentes cumpriram 26 ordens judiciais — 18 mandados de busca e apreensão, cinco mandados de prisão preventiva e três mandados de prisão temporária.

Entre os presos estão dois doleiros já conhecidos pela PF — um deles alvo da Lava Jato e outro, da Operação Farol da Colina. O doleiro Carlos Alexandre, o Ceará, que já foi alvo da Lava-Jato, retomou suas atividades ilegais mesmo após ter firmado acordo de delação premiada com a Procuradoria Geral da República (PGR) e depois homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Tanto a PGR quando o STF serão comunicados sobre a prisão dele para avaliar quanto a quebra do acordo.

Segundo o delegado responsável pelo caso, Roberto Biasoli, há registros de que Ceará tenha operado valores para o narcotráfico desde, pelo menos, 2016, após ter firmado sua colaboração com o Ministério Público Federal (MPF).

“Ele diz na colaboração que o Youssef tinha interesse nele porque ele tinha disponibilidade de dinheiro em espécie por causa de negócios com vinhos. Hoje a gente sabe que o dinheiro em espécie que ele tinha era em virtude da relação com o tráfico de drogas”, afirmou o delegado.

Biasoli ainda destacou que, de acordo com as investigações, os valores oriundos do narcotráfico poderiam ter chegado a políticos investigados e presos na operação Lava Jato, que eram clientes de Ceará.

“A gente tem indícios de um link direto do dinheiro do narcotráfico indo parar na mão de políticos corruptos (...) Eles não estão interessados em saber a origem, eles querem receber. E esse cara que lidava com o dinheiro de narcotraficantes também entregava propina a corruptos,” explicou, segundo o portal G1.

Igor Romário de Paula, coordenador da Lava-Jato na Polícia Federal, porém, ressaltou que é possível que os políticos tenham recebido o dinheiro sem saber de sua origem no tráfico.

“O Ceará é um profissional que atua na lavagem de dinheiro. Ele atende a diversos clientes, na Lava-Jato era um tipo de cliente, mas não necessariamente há vinculação entre eles. Nenhum deles (políticos) tinha ciência do outro ramo de operação do Ceará”, disse.

A operação também tem o objetivo de levantar informações complementares da prática dos crimes de lavagem de dinheiro, contra o Sistema Financeiro Nacional, organização criminosa e associação para o tráfico internacional de entorpecentes.





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