Grito dos Excluídos pede redução da desigualdade
Com o lema Desigualdade gera violência - Basta de privilégios - Vida em primeiro lugar, ocorreu nesta sexta-feira (7) a 24ª edição do Grito dos Excluídos, reunindo representantes de movimentos sociais, de trabalhadores e da juventude.
O evento acontece tradicionalmente em paralelo ao desfile cívico-militar do 7 de Setembro em diversas cidades do país. No Rio de Janeiro, a concentração começou no mesmo horário do desfile, por volta de 9h30, na esquina da Rua Uruguaiana com a Avenida Presidente Vargas, próximo ao local de onde partiam as formações militares do desfile oficial.
Integrante do Jubileu Sul, uma das organizações nacionais do Grito, Alessandra Quintela disse que o Grito dos Excluídos surgiu para ajudar a recontar a história do país, que teve a sua independência proclamada pelo príncipe regente, Dom Pedro I, sem participação popular.
“Não foi uma independência vinda das lutas sociais, apesar de ter várias lutas naquele período de Brasil colônia. Então a gente tem que gritar para reconstruir a nossa história. O Grito nasce nesse sentido, de ser um grito de baixo, desde os trabalhadores e trabalhadoras, querendo construir e construindo na prática um novo Brasil, que acabe com os privilégios e as desigualdades”.
Segundo Alessandra, a marcha também é um contraponto à parada militar e à militarização da segurança pública, para dialogar com a sociedade visões diferentes sobre os fatos. Para ela, a repressão aumentou ao longo desses 24 anos de existência do Grito dos Excluídos.
“A militarização piorou demais, o aparato repressor aumentou e se instrumentalizou ainda mais. Aqui no Rio de Janeiro, em particular, com a Copa do Mundo e com a Olimpíada, se justificou um aumento desse aparato repressor de forma brutal. A repressão contra os movimentos sociais aumentou nesses 24 anos de maneira exponencial. Você veja que tem pessoas aí que foram presas e foram condenadas por participar de manifestações na copa do mundo”.
Presente no Grito, a idealizadora do espaço de acolhimento às pessoas trans Casa Nem, Indianare Siqueira, disse que foi para o ato para se posicionar contra o fundamentalismo e para lutar pelos direitos das pessoas trans e das profissionais do sexo.
“As pessoas trans são as mais excluídas da sociedade, assim como na área trabalhista, quem se prostitui é excluído até dos direitos trabalhistas. E a maioria das trans tem como única opção a prostituição para sobreviver. Então, não existe uma luta só pelos direitos trans que também não passe pelo direito da regulamentação da prostituição das profissionais do sexo”, disse.
Performance
A artista de rua e bonequeira Fernanda Machado, da Companhia Horizontal de Arte Pública e da Frente Internacionalista dos Sem-Teto (Fist), fez uma performance representando “a morte da democracia”.
“A democracia pretende ser o poder do povo, com a ideia do sufrágio universal, para que a gente possa eleger representantes. Mas os representantes não nos representam. Então hoje a gente veio falar que a democracia está morta, ela é estuprada, violada todos os dias, isso que a gente veio trazer à tona. O que ela pretendia ser, enquanto poder do povo e representar esse povo, ela virou uma simples alegoria e pode servir para o carnaval”, disse a artista.
Por volta de 10h30, os manifestantes tentaram formar a marcha na pista central da Presidente Vargas, sentido Candelária, mas foram impedidos pela Guarda Municipal e Polícia Militar. Houve um princípio de tumulto, mas logo foi resolvido com os ativistas retornando para a pista lateral.
Ao meio-dia, após terminar o desfile cívico, o Grito dos Excluídos saiu em marcha pelas avenidas Presidente Vargas e Rio Branco até chegar à Praça Mauá. O percurso durou meia hora e foi acompanhado por forças de segurança. Não houve conflitos.