Quatro empresários foram ouvidos hoje na CPI das Obras da Copa. Eles participaram das licitações para elaboração de projetos da arena e confirmaram vínculos com as vencedoras dos certames
Deputados apontam fortes indícios de direcionamento em licitações da Arena Pantanal
Todos os ouvidos perderam o certame e foram convocados para esclarecer como se deu a participação deles no processo, além de explicar também o fato de terem ligações com as empresas vencedores, devido a suspeita de direcionamento na escolha tanto da Castro Melo quanto da GCP.
Para os deputados Oscar Bezerra (PSB), presidente da CPI, Dilmar Dal Bosco (DEM) e Mauro Savi (PR) ficou claro que houve direcionamento e que as propostas foram apresentadas para dar cobertura às vencedoras.
O presidente considerou os depoimentos interessantes e diz que foi possível fechar um ciclo de investigação. “Tivemos informações que precisávamos para ter a confirmação de direcionamento da licitação”, afirmou.
Bezerra informou que, conforme já foi apurado, até as datas de envio das propostas são as mesmas, assim como as letras utilizadas e até o espaçamento entre as linhas. Os modelos utilizados pelas empresas são muito semelhantes e chama a atenção.
Na opinião do parlamentar, há fortes indícios da ligação entre os arquitetos que participaram do certame e de direcionamento das licitações. “Obviamente que é o relatório que vai apresentar isso aí, não podemos fazer juízo de valor, e condenar antes do fim. (...) As empresas vencedoras têm ligação fortíssima e isso já foi provado”, declarou.
Mauro Savi disse ser “incrível a coincidência” o fato de todas as pessoas terem ligação com as empresas vencedoras. “Num universo de 4 mil empresas localizadas em São Paulo escolheram três de amigos, ex-sócios e parentes. Isto nos entristece, mas esperamos que estas pessoas sejam indiciadas”, cobrou.
Os depoimentos
O primeiro a ser ouvido foi o ex-diretor responsável da Strutecnica Projetos e Obras Especiais, Américo Fontana, que representou a empresa como uma das concorrentes no processo de contratação de projeto para o estádio Verdão. Ele acabou por desmentir a Castro Melo, que tentou convencer os parlamentares de que estudo de viabilidade seria a mesma coisa que projeto básico.
Américo explicou as diferenças e disse que após ter apresentado a proposta de valor para elaboração de um projeto básico, não recebeu mais nenhuma resposta do governo do Estado e acabou deixando o assunto de lado.
A segunda testemunha foi Rita de Cassia Alvez Vaz, arquiteta e diretora da Teuba Arquitetura e Urbanismo, que tem como sócia a irmã do dono da Castro Melo. Ela participou do certame e disse ter apresentado uma proposta de projeto pré-básico, e também foi questionada para falar sobre a diferença.
A arquiteta acabou por dizer que pesquisou como fazer a proposta pela internet e disse ainda ter entrado em contato diretamente com a Fifa para ser orientada sobre o que deveria constar neste projeto para poder dar o preço. Conforme o edital, a vencedora teria 30 dias para concluir o projeto básico da arena, no entanto, Rita de Cássia afirmou que isto seria impossível.
Vale lembrar que o projeto da Castro Melo custou cerca de R$ 500 mil e depois foi ignorado pelo governo, que lançou uma carta-convite para licitar uma proposta de elaboração de projeto básico e executivo que custou mais de R$ 14 milhões, na qual a empresa GCP saiu vencedora. A empreiteira, inclusive, chegou a manter contato com o ex-secretário de Estado de Turismo, Yuri Bastos, responsável à época pelas licitações.
Na disputa para elaboração do projeto básico e executivo, a empresa Orbi Projeto e Arquitetura apresentou uma proposta no valor R$ 18 milhões. O arquiteto e diretor na época era Edison Borges Lopes e ele foi ouvido pela CPI. O arquiteto contou que foi colega de faculdade do dono da GCP, com quem também chegou a ser sócio até 2006, três anos antes de participar da licitação.
Lopes disse não se lembrar por quem foi procurado para participar da concorrência e não sabe como recebeu a carta-convite. Esse mesmo discurso também reproduzido por Eduardo Laterza, da Core Arquitetos Associados.
Laterza também foi amigo de faculdade do dono da GCP e trabalhou com ele antes de ter sua empresa. Porém, apesar do grau de amizade, disse que são concorrentes e negou ter apresentado uma proposta que tivesse servido de cobertura para a GCP.
A proposta da Core foi no valor de R$ 20 milhões e, na opinião dele, seria impossível executar a proposta por valor inferior, a menos que a vencedora não obtivesse lucro.